6 anos, 7 posts (IV.5)

Finalmente expliquei para Pai Jorginho de Ogum o motivo da minha visita. Havia perdido muito tempo discutindo sobre aqueles que sumiram, me esquecendo do meu real objetivo, que era arrumar assunto para a Semana CH3.

Expliquei para ele que, antes de começar a pensar em como seriam as postagens da Semana CH3, eu havia consultado todos os posts comemorativos. E acho que foram muitos, porque aqui se comemora qualquer coisa. Fiz essa consulta para evitar que eu fizesse um post exatamente igual aos que já foram feitos em anos anteriores. Acredito que sempre falho nessa tentativa, porque até mesmo esta vontade é repetida anualmente. E o pior é que a cada ano uma nova maneira é esgotada e penso que o blog não chegará até os 7 anos, apenas para evitar este momento desagradável.

Pai Jorginho de Ogum fez a observação de que o blog anda abandonado. Falei para ele que aquilo não era exatamente uma novidade, que há tempos que todos me abandonaram e ele já havia me feito essa observação no ano passado. Jorginho negou. Disse que ele nunca abandonou o blog. Que entre as poucas visitas de Cuiabá que ainda restam, uma tem a marca do seu IP. Marcão falou que também leria o blog, se ele soubesse ler e se soubesse o que era um blog. Cão Leproso continuou fitando o nada com os olhos, da mesma maneira que ele sempre faz nos últimos tantos anos.

Como se tivesse incorporado um sociólogo, Jorginho começou a listar os motivos do fracasso. Disse que em certa época, o blog fazia sucesso no meio universitário, porque era o ambiente que nós frequentávamos e universitários geralmente gostam de qualquer coisa. Naquela época também existiam figuras como o Bruno, que conduzia as pessoas até a sala de informática para ver os posts. Ele apontava para o Vinícius no saguão do IL e dizia: vejam só este cara é bizarro, ele escreve sobre besuntação.

Os comentários e a repercussão do blog começaram a cair exponencialmente a partir do momento em que nos formamos. Nossos colegas deixaram de ser universitários e passaram a ser comunicadores. E comunicadores não gostam de nada, são sempre críticos ácidos. Assim sendo, nosso blog perdeu o seu público alvo e ao mesmo tempo, deixou de ser encarado como uma novidade. E na internet as coisas só prestam enquanto elas ainda são novidades. Portanto, não adiantava mais fazer posts sobre o universo da faculdade, porque a faculdade não mais nos pertencia.

Aos poucos, São Paulo ultrapassou Cuiabá como a cidade que mais visita o blog, depois foi o Rio e agora e Belo Horizonte. Ou seja, não adiantava mais fazer posts sobre a realidade cuiabana, porque ela não pertencia mais ao mundo dos nossos leitores. Nossas visitas passaram a ser dominadas meramente pelos critérios populacionais que fazem com que as maiores cidades tenham mais chances de gerar visitas aleatórias. Ou seja, o blog perdeu sua identificação com as pessoas. Talvez, a gente deveria se mudar para São Paulo, tal qual o Vanguart fez. O calor cuiabano seria substituído pela garoa paulista, a Fernando Correa pela Avenida Paulista.
Vinícius, o Rei do Saguão

Claro que vez por outra ainda surge alguém que diz que adora os nossos textos, mas estas pessoas são raras. Porque nossa realidade não pertence a mais ninguém.

Fiquei impressionado com a análise de Pai Jorginho de Ogum e perguntei se ele conseguiria repetir suas palavras, para que eu pudesse copiar. Ele sacou um gravador do bolso e disse que ultimamente sempre tem gravado suas conversas, para evitar confusões com os agiotas.

Jorginho perguntou se eu iria comemorar o aniversário do blog. Eu falei que não havia nada o que comemorar. Ele concordou. Fez um convite para eu ir jantar na Carnicentas na noite do aniversário. Marcão iria fazer um dos seus pratos especiais. Recusei veementemente.

O Ourives da Sabedoria disse que gostaria de me fazer uma última pergunta. Respondi que eu lhe deixaria a vontade. Ele perguntou quando é que eu teria coragem de terminar o blog. Falei que eu tinha algumas metas pessoais para isso, quando alcançasse um fracasso irreverssível. Mas que preferia não revelar. Ele me chamou de covarde. Não respondi nada.

(Continua)

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