Por onde anda: Nostradamus

Na verdade, este é Pedro
Alvares Cabral. Mas, no passado
todos eram barbudos aleatórios
Esses dias um amigo meu comentou comigo: “você tem visto o Nostradamus? Esse cara anda sumido, não é mesmo?”. Puxei pela memória e realmente não me lembro a última vez em que eu vi o notável cidadão. Foi-se o tempo em que ele aparecia em jornais, no Globo Repórter. Já era o tempo em que ele monopolizava o mercado de previsões bombásticas e escrituras indecifráveis.

Nos tempos atuais, nós só escutamos falar dos maias. Esses bárbaros extirpadores que previram o final do mundo para este ano e que, vejam vocês, descobriram que não é verdade. Não é frustrante isso? E todas as loucuras que você cometeu imaginando que o apocalipse te encobriria? Ou todos os posts sobre esse assunto. Tudo em vão. O mundo não vai acabar. Ainda teremos que aguentar nossas vidas miseráveis por mais tempo.

Enfim, hoje ninguém mais escuta falar de Nostradamus. Por isso, eu pergunto: onde você está Nostradamus? Porque está tão sumido? Porque não escreve mais? Porque não nos traz as boas novas?

Miguel Nostradamus nasceu em Saint-Rémy-de-Provence em 1503 e morreu em Salon-de-Provence em 1556. Foram apenas 53 anos de vida, mas 53 de muitas loucuras e altas confusões. Neste tempo, ele conciliou a profissão de farmacêutico com as mais insanas previsões sobre o futuro. Inclusive, ele previu a sua própria morte. O que não é muito complicado, quando se está em estágio terminal.

Lembro-me bem que foi em 1999 que Nostradamus atingiu o seu apogeu. Naquela época, ele também havia previsto um apocalipse. Era um dia de eclipse solar e o mundo iria terminar apenas no hemisfério norte. Este apocalipse seletivo era um tanto quanto intrigante, mas ele não aconteceu. Inventaram-se mil desculpas e Miguelito seguiu em alta.

Entre as suas façanhas estava a de ter previsto as duas guerras mundiais, o fim da União Soviética – o que pressupõe que ele previu também a sua criação – e a derrota do Brasil para a França na final da Copa do Mundo de 1998 – o que também pressupõe que ele previu a criação do futebol e de um torneio de seleções para isso.

Suas previsões eram um tanto quanto viajadas, diria que místicas. Mais excêntricas do que as letras do Led Zeppelin inspiradas em Senhor dos Anéis. Sempre falam em grandes líderes inominados, sabe. “Aquele que um dia esteve no alto da colina, será superado por aquele que outrora foi a sua sombra”. O fim da União Soviética mesmo, foi interpretado através da frase “Um dia serão amigos os dois grandes chefes”. Poderiam ser o dono de duas padarias rivais na Freguesia do Ó, quem sabe.
Qualquer letra afrescalhada em um papel pardo dá a impressão de ser importante

Para mim, Nostradamus era um louquinho de bairro que, como tal, fazia associações excêntricas e soltava frases de efeito desconexas. Mas, às vezes esses personagens são levados a sério. Eu só acreditarei nessas previsões do passado no dia em que acharem um pergaminho de 1209 no qual esteja escrito. “Olha, no dia 19 de maio de 2012, um ônibus da Andorinha irá atropelar o pedestre de nome Benedito Gonçalino Campos na esquina da Fernando Correa com a Rua 1 do Boa Esperança. Tal fato provocará a revolta dos populares, encaminhando um conflito mundial que culminará na explosão do Planeta Terra”. Mas, enfim, nem é sobre isso o que eu quero falar.

O fato é que de um tempo para cá, Nostradamus sumiu. Não sei explicar o motivo, mas o fato me intriga. Será que nos últimos tempos ele não previu o fracasso da previsão dos Maias? A crise da Grécia? As convocações do Afonso Alves? Bem, pelo menos Nostradamus pode ter o orgulho de ter desaparecido depois do Walter Mercado e da Mãe Dinah. Será que no futuro as pessoas se lembrarão de Nostradamus?

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