Realismo de verdade

No mundo moderno, as pessoas costumam a dar um grande valor para o realismo e a intensidade de suas experiências. Sim, você pode me perguntar se um mundo em que as pessoas ainda compartilham frases do Chorão e fotos de cupcakes no Facebook pode ser moderno. É difícil de aceitar, mas, as convenções são assim. Não podemos falar que estamos na era paleozoica.

É por isso que nós compramos aparelhos capazes de reproduzir filmes em alta definição, que nem nossos olhos conseguem ver. É por isso que as pessoas pagam mais caro para assistir filmes em três dimensões. É por isso que elas, não eu, assistem reality shows e todos esses programas com simulacros da realidade. Elas querem se sentir dentro daquilo, sentir que fazem parte daquilo.


Pessoas pagam para brigar, lutar com leões, viajar até uma estação espacial, pagam por tudo o que o dinheiro pode comprar (para todas as outras, não existe cartão). É uma busca incessante por sentimentos extremos. Deve ser isso que leva alguém a se masturbar com uma corda em volta do pescoço, mordendo um limão.

Ontem, morreu em Itapeva o ator Tiago Klimeck, de 27 anos. Ele sofreu um enforcamento involuntário enquanto interpretava o papel de Judas Iscariotes na Paixão de Cristo. Depois de sofrer o acidente, Tiago ficou aproximadamente quatro minutos desacordado, foi o tempo que levou para alguém perceber o que se estava passando.

Nós já falamos aqui que um dos piores momentos para se morrer é quando você está assistindo a uma peça de teatro contemporâneo.As pessoas vão pensar que o seu mal súbito faz parte do espetáculo e é capaz de que algum ator vomite e simule sexo com o seu cadáver. Mas, ao que se saiba, a vida de Jesus tem interpretações mais tradicionais, até porque, crucificar alguém de verdade seria chocante demais.

No entanto, eu imagino que o público de Itapeva deveria ser formado majoritariamente por pessoas que compram filmes em Blue-Ray, escutam mp3 em 320kbps e que compraram ingresso para assistir a reestreia de Titanic. Pessoas que saltam de paraquedas do topo de árvores, assistiram Two Girls One Cup sem estranhar.

Quando elas perceberam o ator agonizando no palco, devem ter vibrado. Pensaram “caramba, esse cara é muito bom! Que realismo! Parece que ele realmente está morrendo enforcado. Estou acreditando que ele é o próprio Judas! Uau!”. Aplausos, aplausos. Até que alguém percebeu que a cena estava longa demais.



Bem, isso me lembrou este vídeo, que eu precisava compartilhar. Uma brincadeira joselita de aniversário que acaba se transformando em um homicídio culposo, quando não há a intenção de matar. A assassina ainda mexe com o cadáver, achando que é tudo uma grande brincadeira. Mas, para mim, o detalhe mais sensacional é o garoto de sombrero, comendo o bolo, nem aí para a menina morta. Ele é frio. E vocês não sabem o que ele já não fez por bolo.

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