As Onomatopeias contra-atacam

Sonhos surreais são comuns. Aquele sonho em que você está na sua casa conversando com seu primo Walter sobre canetas BIC, mas então você sai andando pela rua e ao invés do seu primo Walter, agora é o Ney Franco que está ao seu lado e vocês chegam até uma loja de conveniência em um posto de gasolina na Estrada do Moinho, onde você é selecionado para ser o jurado de um concurso em que pessoas imitam vacas imitando outros animais. Sua vizinha imita uma vaca imitando uma ovelha e você dá o prêmio para ela: um lençol branco.

Ou então, você está em uma balada bebendo todas. E eis que na sua frente não surge a menina mais linda, mas sim o Neymar. O Neymar? Exatamente. E ele resolve conversar com você. E ele te ordena: faça o tchu tcha tcha. Você questiona o Neymar dizendo “Neymar, que porra é essa?” e ele te diz: “vou te ensinar”. Antes que você acorde assustado com o pesadelo, você descobre que essa é a música do momento.

No fundo, todo o idioma russo
se parece com uma onomatopeia
As onomatopeias sempre fizeram parte da música brasileira, quiçá mundial. No caso da música baiana, a onomatopeia é praticamente uma entidade, comparável apenas a Caetano Veloso ou, talvez, Bell Marques. A onomatopeia é parte essencial da Axé Music, intrínseca a sua existência, como podemos averiguar em “Aê aê âe aê, ê ê ê ê, ôôôôô” ou em “Arerê, o Love, Love, Love com você” ou mesmo em “Segura o Tchan”.

A função das onomatopeias na música costuma a ser meramente embromativa. Elas ocupam um espaço vago em que o cantor não tinha a menor idéia do que escrever. Ou então, elas servem de metáfora sexual, como era o caso do Créu, ou do próprio Tchan. Ou até no sucesso da semana passada, do Gusttavo Lima e você.

Sim, ao invés de dizer “gata, me liga, vai rolar sexo selvagem até altas horas da madrugada. Irei me lambuzar e saciar meus desejos mais sórdidos no seu corpo nu, até você não ter forças para respirar”, ele prefere cantar “vai rolar o Tche Tche Rere Tche Tche”. O que eu acho disso? Que alguém que se chama Gusttavo merece ser enforcado na cadeira elétrica.

Agora, a metáfora do Tchu Tcha Tcha é a mais enigmática da história. Todo o enredo da canção gira em torno dela. Ao que parece é uma dança, tal qual o Siriri ou o Cururu. É algo que pode ser ensinado pelo Neymar, é algo que as pessoas pedem. Mas o que é exatamente? Porque alguém diz querer Tchu e logo depois querer Tcha? Porque senhor? Porque não acaba logo com esse sofrimento, exterminando a raça humana?

O que vai vir depois? A dança do Tchoim Poroim Poim? O Tuga Buga Ruga? O Tchi Thic Tchak? Enfim. Volta Michel Teló, sentimos falta da sua poesia.

Comentários