Sacrifício Inútil (e extenso)

O despertador toca. Você acorda assustado e percebe que ainda é de madrugada e amaldiçoa o despertador. A ficha cai. Começou o horário de verão. Os relógios são adiantados em uma hora e o pior dia de nossas vidas começa. Seu sonho de estar pelado na escola é interrompido e você tem que ir para o trabalho uma hora mais cedo. Sei de pessoas que choram nesse momento.

Mas você sobrevive e vai se acostumando. Em pouco tempo, passa a achar que sempre viveu neste horário. Até que em um belo dia o horário de verão acaba. Você passa a ter a impressão de que está saindo mais tarde do trabalho, se sente com fome em horários inadequados. Os malefícios podem ser superestimados, mas é verdade que o horário de verão bagunça um bom tempo do seu ano.

Na primeira segunda-feira após o final do horário de verão, o jornal exibe aquela matéria, tão clássica quanto à matéria sobre o que fazer com os seus filhos em casa durante as férias. Uma espécie de balanção do Horário de Verão. Orgulhosamente, o apresentador informa que durante os quatro meses do horário de verão, Mato Grosso economizou 50 mil megawatts, o suficiente para abastecer uma cidade do tamanho de Chapada dos Guimarães por duas semanas.

É sério isso? Que fizemos esse sacrifício todo? Que estabelecemos toda essa mudança em nossas rotinas, colocando em risco a nossa saúde? Que tivemos que passar por essas duas bruscas adaptações hercúleas em nosso cotidiano? Tudo isso apenas para abastecer Chapada dos Guimarães durante duas semanas?

Não vale a pena. Não, não vale. Seria muito mais fácil deixar Chapada dos Guimarães sem luz elétrica durante duas semanas, já que a economia seria a mesma. Pense bem, poderiam aproveitar o inverno e fazer um projeto turístico: passe duas semanas rústicas em contato extremo com a natureza.
Um contato rústico com os prédios
Ou então, poderíamos fazer um rodízio entre cidades do mesmo porte de Chapada, como Canarana, Poxóreo, Comodoro. Cada uma ficaria sem luz elétrica durante um dia inteiro. Seria um impacto de um dia na vida de 250 mil pessoas. Bem melhor do que alterar a rotina de 3 milhões de pessoas durante 100 dias. Seria um sacrifício dessas cidades por um bem maior.

Existem alguns sacrifícios que realmente não valem a pena. É igual quando os médicos falam que para viver até os 80 anos, você tem que manter uma dieta rica em fibras, cortando açúcar, sal, gordura, cafeína, glúten, carne vermelha. Mas para que alguém vai querer viver até os 80 anos sem comer nada disso? Não vale a pena viver um ano sem churrasco, imagine 80 anos.

Ou aqueles caras que ficam montando castelos de cartas. O cara fica dois anos concentrado, sem ir ao banheiro, para construir a nova pirâmide de Quéops utilizando baralho suficiente para abastecer partidas de truco na Universidade durante oito anos. Pra que? Porque? Alguém espirra e o negócio caí.

Ou durante uma partida de xadrez. O cara fica dez minutos olhando o tabuleiro. E então, mexe um peão. Você se pergunta porque? Porque? Porra, pra mexer um peão ficou dez minutos! Ahhhh!

(Post interrompido. O autor foi detido pela polícia mental e será lobotomizado em breve).

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