Mulheres Ricas


Uma grande obra de arte mexe conosco. Aquele grande filme que nos surpreende, que nos faz pensar, refletir. Aquele livro que nos mostra outro mundo, nos choca. Uma obra de arte é aquilo que te dá a certeza que você nunca mais será a mesma pessoa, depois que ela passar por sua vida. Arthur Schopenhauer já dizia “sogra boa é igual cerveja, gelada em cima da mesa”, ou algo parecido.

Sob esse ponto de vista, o grande programa de televisão do ano é: Mulheres Ricas, da TV Bandeirantes. Eis uma obra que surpreende, choca, nos faz refletir. Apresentado sutilmente como “conheça o cotidiano de cinco mulheres da alta sociedade brasileira”, Mulheres Ricas é um estudo antropológico sobre as castas brasileiras. É um programa que abre a janela para um mundo novo.
Sacolão na 25 de Março

Foi no último sábado, que eu pela primeira vez assisti ao programa. Digo que eu ainda não me recuperei completamente do choque. Tenho passado os últimos dias tentando entender o que foi que eu vi. E é difícil entender. Tal qual um livro de James Joyce ou José Sarney, ou uma pintura de Picasso.

Como já foi dito, o programa conta a história de cinco pessoas: Brunete Fraccarioli (sério que realmente existem pessoas chamadas Brunette?), arquiteta nascida em berço de ouro que coleciona barbies; Lydia Sayeg, joalheira que faz cinco refeições diárias, ricas em ípsilons; a onipresente Narcisa Tamborindeguy, cuja riqueza vem de família; a ex-musa dos sem-terra e piloto de caminhão (?), Débora Rodrigues; e Valdirene Marchiori, que se define como linda, loira e magra. Cientistas trabalham duro na tentativa de descobrir qual é a ocupação de Valdirene.

O programa é focado em mostrar a contribuição destas cinco brilhantes mentes para a humanidade. Como elas ocupam o seu tempo andando de cavalo, jogando golfe, bebendo champanhe, fazendo drenagens, bebendo champanhe, comprando joias, falando mal uma das outras, bebendo champanhe, enfim, uma rotina extensa. Confesso que perdi 20% da minha massa encefálica depois de assistir ao programa.

Barbie exibe sua coleção de Brunetes
Imagino a árdua tarefa dos editores do programa, para conseguir resumir em uma hora a estressante rotina das participantes da atração. Uma é cover da Barbie, outra pontua todas suas frases com um Helloooouu, todas adoram dizer “que linda”. Ah, e a coitada da Débora parece meio deslocada. Ela parecer ser a única que já trabalhou um dia.

No episódio que eu assisti sábado, dois momentos realmente me chamaram a atenção. No primeiro, Valdirene, Brunete e uma amiga de Valdirena – cuja função é dirigir a limusine enquanto as outras duas bebiam champanhe – foram jogar golfe. Entre tentativas públicas de humilhação entre as duas ricas, a tal amiga comentou a longa viagem até o campo de golfe. "Foi difícil porque a Val (nome artístico da Valdirene) não ficava quieta. Ela não tem paciência pra andar de carro, só anda de helicóptero”.

Um momento sublime. Você que se queixa de ter que esperar o ônibus, carpir um quintal, carregar um saco de batata nas costas. Você não sabe o que é chato. Chato é andar de limusine, ao invés de andar de helicóptero. Nesse momento eu desisti dos meus problemas, coloquei um boné na cabeça e disse “Enriquecer é glorioso”, como um mantra.

Ainda durante a partida, Valdirene arremessou sua bola de golfe num pedaço de areia. Depois de falhas tentativas de retirar a bola do local ela disse para o seu carregador de tacos. “Vem cá, por mil reais você joga a bola lá longe?”. Ele concordou. Claro que concordaria. Por mil reais, o que ele não faria? Capaz que servisse de bicicleta humana para Valdirene. E sim. Ela pagou mil reais pra um cara, por um motivo desses. Mil reais. Pra tirar a bola da areia. Imagina se fosse algo sério.

Em outro momento, eu diria que lendário, Lydia Sayeg fala sobre uma experiência transcendental. Sua filha seria operada de alguma coisa, não se sabe o que, mas ela sobreviveu. Lydia conta que dormiu às 2h e acordou as 4h, organizou tudo, a equipe de segurança, enfim, e acordou a filha para ir. “É tanta coisa que às vezes nem eu sei como eu consigo”.

Realmente Lydia. Nem eu. Já perdi horas de sono tentando entender como é que você conseguiu realizar uma tarefa tão complexa. Como é que você teve a capacidade. Diante da mortal expectativa de acordar, organizar a equipe de segurança e ir para o hospital, não sei o que eu faria. Acho que eu sentaria e choraria em posição fetal às margens do Rio Piedra.

Antes que eu amarrasse uma corda em volta do pescoço e atirasse na minha cabeça, eu parei de assistir o programa. Mas, não tenho dúvida. Esse reality show (realidade?) é o programa do ano de 2011. A televisão não conseguirá produzir algo nesse nível tão logo. O fim de Mulheres Ricas deixará uma lacuna impreenchível em nossas almas.

Comentários

Thiago disse…
Deve ser difícil mesmo passar o dia todo pensando em formas de gastar dinheiro.