Plantão da Globo

A musiquinha. Maldita música, macabra música que marcou nossa infância, nossa juventude. Você podia estar em qualquer lugar da casa, do mundo. Quando aquela musica do Plantão da Globo tocava, você ficava paralisado. Sentia aquele frio na barriga. Ia para frente da televisão para saber o que aconteceu. Provavelmente era algo marcante.

E não dava outra. Um avião caiu. Sempre que tocava a música do plantão, era certeza que um avião tinha caído. Mortes, destruição. A música tocava novamente. A família se postava pálida diante da televisão para saber que desgraça havia ocorrido. Incêndio em um prédio. Muitos mortos. Pessoas pulando do alto do prédio. Pulando para a morte diante das câmaras em um espetáculo mórbido.

Informações desencontradas. Não se sabe quantas pessoas morreram. E tão ruim quanto a vinheta era aquele barulho do helicóptero. O som das hélices do helicóptero, aquele apito surto ao fundo é a trilha sonora da tragédia. É a trilha sonora do inferno. Aquelas imagens distantes da tragédia. Você não sabia o que acontecia. O jornalista não sabia o que dizer. Ficava aquela indefinição de imagens pouco esclarecedoras, pouca informação a ser dada, e a família seguia pálida diante da indefinição. Palpites, palpites de quatrocentos mortos, muita desgraça.
Ainda não sabemos o número de mortos

Agora estamos em 2012. A música do plantão toca. As lembranças de um passado recente gelam a espinha. A adrenalina aumenta, o coração dispara. A sua cabeça traz de volta as lembranças dos plantões passados. Os Mamonas Assassinas morreram de novo, pensa. A música acaba, aquele interminável segundo de silêncio que precede o apocalipse. E o repórter anuncia: “Saiu neste momento o resultado do julgamento de Lindenberg Alves”. Frustração.

A música do plantão não é mais o sinal iminente da tragédia. Não é mais a personificação das trombetas do apocalipse. A queda de um ministro é motivo para a entrada de um plantão. Um ministro, apenas. Não, ele não caiu junto com seu avião. Apenas foi exonerado. Frustração.

Difícil entender os motivos da banalização do plantão. Mas a minha aposta está nos Ring Tones. As múltiplas possibilidades de se conectar um moderno aparelho celular a um computador – cabos USB, infravermelho, Bluetooth, blueray, megahair – transformaram a tarefa de escolher o seu toque de celular.

Se antes você era escravo das opções oferecidas pelo seu modelo, hoje você escolhe a sua música. E é claro, que diversas pessoas teriam a brilhante ideia de utilizar o tema do plantão. Assim sendo, a outrora nefasta composição deixou de fazer parte apenas do imaginário popular, reduzida ao anúncio de uma tragédia. Ela passou a fazer parte do nosso cotidiano, podendo significar apenas uma ligação do seu chefe.

Provável que essa passividade rotineira tenha contaminado a Rede Globo de Televisão. Acostumados a escutar a canção em todo e qualquer momento, os editores se esqueceram do passado catastrófico do plantão, gerando a banalização completa. Não se fazem mais tragédias como antigamente.

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