Grandes Letras Clássicas da Música Brasileira (VI)

Marchinhas de Carnaval
Até onde essa série chegará? Até o número XLV? DCCC? Até onde minha capacidade de escrever algarismos romanos chegar.
O carnaval está chegando. É incrível como o carnaval chega todos os anos. Ele nunca falha. Ninguém jamais diz, pesaroso, “Me lembro aquele verão de 1943… quando o carnaval não veio”. Junto com o carnaval, aparecem as Marchinhas de Carnaval. Fico arrepiado com a coincidência de as Marchinhas de Carnaval sempre serem tocadas durante o carnaval.

E bem, Marchas de Carnaval não são iguais às Marchas da Maconha. Na Marcha da Maconha o pessoal toca Redemption Song. Já as marchinhas de carnaval são músicas de temas surreais e de difícil compreensão. Analisar o seu conteúdo é um profundo exercício antropológico, um passeio pelas inquietudes iconoclastas do âmago humano.

Allah-la-ô
Allah-la-ô, ôôô, mas que calor. Atravessamos o deserto do Saara, o sol estava quente e queimou a nossa cara.

Um bando de irresponsáveis resolveu atravessar o deserto do Saara, sem a utilização de protetor solar e queimaram a cara. É de se admirar que eles não tenham morrido de sede. O grupo parece se surpreender com o fato de o sol estar quente. Resolvem então, pedir proteção divina para Alá. Peraí, o que isso tem a ver com o carnaval? Oras, é uma metáfora para o sexo sem proteção, uma constante carnavalesca.
Que ótimo lugar para uma rapidinha

Cachaça
Você pensa que cachaça é água? Cachaça não é água não. Cachaça vem do alambique e água vem do ribeirão.

Tá certo que o pessoal entorna todas no carnaval. Mas, imagine a condição alcoólica do sujeito que passa a confundir cachaça com água.

A Jardineira
- Ó jardineira porque estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu? 
- Foi a camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu.
- Vem jardineira, vem meu amor. Não fiques triste que este mundo é todo seu. Tu és muito mais bonita que a camélia que morreu.

A coitada da jardineira passa por um momento de enorme frustração profissional. As flores, que ela tão bem cuidava, não resistem a um vendaval e morem. Um homem aparece na história e passa uma cantada furada, como se fosse uma espécie de ombro amigo. Cantadas furadas fazem parte do universo carnavalesco.



Cabeleira do Zezé
Um dia, Zezé voltará.
Para a vingança.
Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é? Será que ele é? Será que ele é bossa nova? Será que ele é Maomé? Será que ele é transviado? Mas isso eu não sei se ele é. Corta o cabelo dele!

Nos tempos atuais, esta canção seria banida das rádios. Primeiro, porque o sujeito conhecido vulgarmente com Zezé sofre uma clara tentativa de Bullying. Podemos escutar as risadas das pessoas por conta do seu cabelo. Segundo, porque sua condição de homossexual faz com que os interlocutores demonstrem toda a sua homofobia. E, terceiro, num claro ato de violência contra a liberdade individual, às pessoas propõe que o cabelo do Zezé seja cortado a força, como se isso pudesse transformá-lo em homem. Quem escreveu essa porra, o Bolsonaro?

Mamãe Eu quero

Mamãe eu quero mamar. Dá a chupeta pro bebê não chorar. Dorme filhinho do meu coração, pega a mamadeira e vem entrar pro meu cordão. Eu tenho uma irmã que se chama Ana, de piscar o olho já ficou sem a pestana

A letra é uma metáfora para o sexo oral, capaz de fazer inveja às ambições literárias do grupo Raça Pura, autor de O Pinto (Nota: aquele que fugiu com a galinha da vizinha).

Máscara Negra
Quanto riso oh quanta alegria. Mais de mil palhaços no salão. Arlequim está chorando pelo amor da Colombina no meio da multidão.

Eu não sofro de coulrofobia, mas, convenhamos que mil palhaços em um salão não é nenhum motivo para alegria. Portanto, o autor coloca em prática toda a sua visão irônica da superlotação das festas de carnaval. Ele queria dizer “Que merda heim! Mais de mil idiotas nesse salão, se espremendo em uma micareta ruim”.

Quanto a eterna celeuma que envolve Pierrô, Colombina e Arlequim, eu tenho uma solução simples: três balas. Uma na testa de cada um.

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