Grandes Letras Clássicas da Música Brasileira (V)


Wando

Você queria bom gosto na foto?
Hoje o Brasil amanheceu mais triste. A voz responsável por embalar tantos romances suados e gostosos se calou para sempre. Morreu Wando, o último romântico, o último amante. Junto com Wando, descansam as calcinhas, outrora atiradas ao palco. Chora um povo que não sabe mais como se amar. Wando Morreu, mas sua obra continuará imortal, intocável. Todos nós estamos sofrendo.

Dono de uma obra ímpar no cancioneiro popular brasileiro, Wando possuía (e como) um repertório vasto. Em seus versos, ele retratava as agruras do homem trabalhador em busca da paixão. Objetivo jamais atingido, porque o homem é um animal insaciável, incontrolável. Sua dor conversava diretamente com o público masculino. Sua dor comovia as fêmeas, que sonhavam com um macho assim. Seu público é amplo e impossível de ser segmentado ou contabilizado. Ele cantava diretamente para todos que tinham um coração batendo sofregamente no peito. A seguinte análise das canções é uma tentativa de compreender este universo inesgotável.

Fogo e Paixão
“Você é luz. É raio estrela e luar. Manhã de sol. Meu iaiá, meu ioiô. Você é ‘sim’ e nunca meu ‘não’. Quando tão louca, me beija na boca, me ama no chão. Me suja de carmim. Me põe na boca o mel. Louca de amor. Me chama de céu. Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! E quando sai de mim, leva meu coração. Eu sou fogo, você é paixão”.

Fogo e Paixão é a Magnun Opus do cantor, a música pela qual ele será reconhecido eternamente. Pesquisas comprovam que a venda de calcinhas nas lojas triplicava nos minutos seguintes a execução da canção nas rádios populares. Afinal, que mulher resiste a ser chamada de luz, raio, estrela e ainda luar? Se fosse só luz, ou raio tudo bem. Mas até estrela e luar? A letra sugere práticas pouco ortodoxas de sexo. No chão, sujos em corantes e com ioiôs. Há, inclusive, uma sugestão de fio-terra na parte em que Wando lamenta o momento em que sua amante “sai dele”.

Aquele amor que faz gostoso me deixou
“Eu era tão feliz. Eu tinha um grande amor, que um dia foi embora, só deixou saudade. Agora quem eu sou? Não teve dó de mim e isso dói demais. De dia eu chorei, de tarde eu penei, de noite não tem mais. Eu já tentei mudar, fazer com outro amor. Mas juro que estranhei, gozar, eu não gozei, meu mundo acabou. Ô uô uô uô uô uô uô------ô, aquele amor que faz gostoso me deixou”.

Vejam vocês, até o deus do amor Wando esta sujeito a sofrer com um pé na bunda, igual a qualquer outro. Essas fragilades traziam traços humanos a sua personalidade e o aproximavam de seus súditos. Wando aborda também assuntos tabus, como a disfunção erétil. A desculpa é a falta de costume com outras mulheres.

Deixa eu te amar
“Quero saciar a minha sede no desejo da paixão que me alucina. Vou me embrenhar nessa mata só porque existe uma cascata que tem água cristalina. Aí então vou te amar com sede, na relva, na rede, onde você quiser. Quero te pegar no colo, te deitar no solo e te fazer mulher. Deixa eu te amar, faz de conta que sou o primeiro. Na beleza desse teu olhar, eu quero estar o tempo inteiro”.

Outra viagem através das perversões sexuais de Wando. Seu fetiche em tirar a virgindade de suas amantes e o gosto por mulheres peludas. Mas, não se esqueçam, estávamos nos anos 80 e isso era normal. Mas, a mulher em questão era tão peluda que ele falava em se embrenhar na região, em busca de um golden shower, um hábito repugnante e absolutamente doentio. Nota-se o gosto de Wando por sexo no chão.

Moça
"Me Perder nos Seus Cabelos"
“Moça eu sei que já não é pura, teu passado é tão forte pode até machucar. Moça, dobre as mangas do tempo jogue o teu sentimento todo em minhas mãos. Eu quero me enrolar nos teus cabelos, abraçar teu corpo inteiro, morrer de amor, de amor me perder”.

O drama e o prazer do romance com uma mulher que não se depila voltam a ser o gancho do refrão, mesmo com o medo de se perder. Será que sua amante era o Floquinho? O fetiche pela virgindade volta a aparecer. Mas é algo difícil quando você namora uma prostituta.

Chora Coração
“Um amor quando se vai, deixa a marca da paixão feito cio de uma loba. Feito uivo de um cão, é feitiço que não sai, dilacera o coração. É um nó que não desmancha, é viver sem ter razão. Chora, coração, chora coração, passarinho na gaiola, feito gente na prisão”.


Passional, Wando deixa claro que um amor não acaba facilmente. Alguém tem que morrer, deixando as marcas de sangue pelo caminho, dilacerando o coração. Depois, ele fala sobre a culpa pelo crime cometido, pela falta de razão. Sobre o crime, ele tem duas lamentações: ser preso e a abstinência sexual, traduzida sutilmente na metáfora do passarinho na gaiola.

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