Sábado… em algum lugar

A essa altura, todos vocês já sabem o que foi que aconteceu sábado na balada. A galera, repentinamente, botou o esqueleto para chacoalhar. E aí, passou uma garota e eu… eu cheguei junto nela: está esperando o ônibus? Não? Porque você está no ponto, heim.

Não há como negar que Michel Teló já dominou nossas vidas por completo. É basicamente impossível passar um dia sem escutar o refrão de sua música. Basta ver um pouco de televisão. A Globo arruma uma maneira de utilizar a gloriosa canção como trilha sonora de qualquer momentos. Um nocaute do UFC? “Assim você me mata”. Fica ainda pior nos protótipos jornalísticos pretensiosamente engraçados.

Até mesmo no Globo Rural. Imagino que os produtores sejam capazes de colocar “ai, se eu te pego” enquanto um boi olha para uma vaca em uma matéria de reprodução bovina. O Fantástico acompanha todos os passos do rapaz e o Globo Repórter explora os mistérios da Amazônia e os novos hábitos econômicos que os brasileiros adquiriram com a música. Até Rocky Balboa sobe a escada ao som da sanfona.

O CH3 já falou que Michel Teló irá provocar o apocalipse. Agora, resolvemos nos aprofundar na prosa Telóliana para conseguir identificar os motivos pelos quais ela exerce tanto fascínio na psique humana.

Vejamos, Teló inicia seu épico com uma descrição do local. Como se fosse um bom jornalista, ele nos dá o lead, informando o quando e o onde, para na sequência informar o que: “a galera começou a dançar”. O ponto negativo é que ficaram faltando outros três elementos do lead e ele utilizou as duas palavras mais escrotas da língua portuguesa em dois versos. Sim, ele veio para matar.

Desses primeiros versos, podemos entender que Michel Teló estava na pior balada do mundo. Convenhamos, as pessoas não tem nada para fazer em uma balada que não seja dançar. Se “a galera começou a dançar”, significa que antes eles não estavam fazendo nada. Logo, a festa estava horrível. Você já viu alguém comentando “cara, pessoal tava dançando na balada!”? Se por algum acaso a letra cantasse:

Sábado na balada… a galera começou a estudar o Manifesto Comunista de Karl Marx.
ou
Sábado na balada… começou a tocar Manic Street Preachers.
ou
Sábado na balada… a galera começou a praticar rúgbi.

Seria algo diferente. Ou ainda, se o pessoal dançasse em lugares diferentes.

Sábado na biblioteca… a galera começou a dançar.
ou
Sábado na sala de espera do Pronto Atendimento do Pronto Socorro… a galera começou a dançar.
ou
Sábado no cemitério… os zumbis começaram a dançar.
A Galera começou a dançar...

Portanto, não há dúvida que a festa estava ruim, servindo caipiroska quente de balalaika. E então, Teló é surpreendido: a menina mais linda passou por ele. Pelo nível da festa, a pior balada do mundo, não é de se estranhar que a passagem de uma mulher bonita tenha chamado a atenção. “Olha só, essa daí até depilou as axilas”, devem ter comentado.

E então, o cantor resolveu tomar uma atitude. Ou melhor, tomou coragem. Ou seja, virou a garrafa de Ice para superar as barreiras e chegar junto na garota. Imaginemos então a cena: Teló puxa a menina pelo braço e começa a falar. “Nossa! Nossa! Assim você me mata! Ai, se eu te pego, ai ai se eu te pego! Delícia! Delícia!”.

Poderia ser a pior cantada da história, ainda mais se estivesse acompanhada da coreografia. Mas, como estava todo mundo bêbado em uma festa ruim, podemos imaginar que Teló tenha passado o rodo. Impressionado com a sua saga, ele resolveu passar sua emoção para o papel nesta sutil canção.

Ok, isso não é verdade. A música foi composta por Sharon Acioly e Antonio Dyggs. O que transforma o processo inteiro em um mistério ainda maior. Será que é uma experiência real vivenciada pelos dois? E a grande dúvida, como é que duas pessoas se juntam para escrever um negócio desses? Como é este processo criativo?

- Sábado na balada... será que...
- Hmm... a galera começou a cantar.
- Não, acho que começou a dançar.
- Isso, isso. E aí... aí... começou a chover?
- Não, acho que... hmm, passou... passou um avião!
- Passou uma menina linda! Então eu cheguei pra ela e...
- Comecei a falar... que...

Enfim, a música faz sucesso porque boa parte da humanidade está acostumada a virar uma garrafa de Ice para encarar as festas ruins que encontramos por aí. A música conversa diretamente com boa parte da população.

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