Pessoas constrangedoras, volume 10


Pessoas que supervalorizam experiências pessoais

Você conhece alguém que chora facilmente. Certo que o conceito de “chorar facilmente” é bastante subjetivo. Para algum torturador, alguém que desaba em lágrimas após ser açoitado por golpes de vassoura e descargas elétricas no ânus ao som de Galopeira, é um fracote. Já para uma atriz de Malhação, àquele que não chora ao descobrir que seu xampu acabou é um Hércules.

Pois bem, chorar facilmente é uma característica das pessoas que supervalorizam as suas experiências de vida. Um tipo de pessoa constrangedora.

Situação 1: No momento de relaxamento
¬- A professora disse: “coloquem o confete na boca e fechem os olhos” e então, nós fomos imaginando as cores se dissolvendo no céu da boca. E então eu estava caminhando. Caminhava na rua da casa em que eu vivi a minha infância. E então, a professora disse que nós encontraríamos alguém. Eu encontrei o meu tio Beto. Ele morreu quando eu tinha seis anos. O tio Beto chegou para mim e disse “na vida, nós só levamos aquilo que importa”. E então, (limpando as lágrimas) eu percebi. Eu descobri. Que na vida, realmente, a gente tem que se preocupar com as coisas importantes, as pessoas importantes, para buscar a felicidade.
- Cara, era só pra descansar um pouco.

Situação 2: Na dinâmica de grupo
- Agora para encerrar, nós vamos abraçar os nossos colegas...
(Interrompido por uma pessoa chorando)
- Obrigado, pessoal, eu amo vocês. Com vocês, eu aprendi o que é amar, eu aprendi o que é viver. Vocês me seguraram no momento em que eu caí, você fizeram eu conhecer o mundo melhor. Vocês mudaram a minha vida.
- Cara, a gente se conheceu meia hora atrás, antes da entrevista de emprego.

Situação 3: Na volta de uma viagem
- Você não tem noção do que eu passei nessa viagem. Tinha momentos em que eu olhava para o lado e eu estava sozinho. Não tinha ninguém, NINGUÉM para me ajudar. Mas, foi bom. Eu aprendi a me virar sozinho, arrumar o que comer, interagir com as pessoas. Posso dizer que eu sou uma nova pessoa, muito mais maduro, muito mais preparado, pronto para encarar o mundo.
- Cara, você só passou a tarde em Jaciara.

Situação 4: A Bebida
- E então eu estava bêbado. Minha cabeça girava, girava, eu não sentia meus membros, meu rosto adormecido. As pessoas falavam comigo e eu não entendia nada. O mundo parecia passar em câmera lenta. Quando eu vi, eu estava nu, em uma cama desconhecida, com uma mulher que não me lembro o nome. Ela me acariciou e então eu dormi. Percebi a minha fragilidade, conheci os meus limites, eu perdi o controle completamente.
- Cara, você só tomou uma Ice. E a mulher era a sua mãe te colocando pra dormir!

Situação 5: Acidente
- Depois do acidente, eu mudei a minha visão sobre o mundo. Eu conheci a morte de perto. Quando tudo aconteceu, eu vi meu corpo de fora. Eu vi uma luz. Eu vi alguém me chamando. Eu escutava as pessoas comentando tudo, os primeiros atendimentos. E então, eu voltei. Eu nunca vou me esquecer disso.
- Cara, foi só um copo que caiu no seu pé.

Situação 6: Lendo este post
- Agora eu percebo. Eu percebo tudo o que eu fiz na minha vida, o quanto eu sobrevalorizei coisas banais que aconteciam comigo, imaginando que eram experiências únicas. Este post conversou diretamente comigo. Agora, posso marcar esse dia como um recomeço, como uma nova busca pela minha realização pessoal.
- Cara, vai a merda.

Comentários

Anônimo disse…
As vezes até acabo esquecendo o que li faz pouco tempo. Fora o fato da Luiza estar no Canadá...xD