O Dossiê Luíza


João Pessoa, a capital da Paraíba. Em uma tarde de verão o colunista social Gerardo Rabello grava uma propaganda com a sua família. O comercial anunciava um condomínio de luxo, alto-padrão, apartamentos com quatro suítes. Em um texto simples, o colunista explica que se mudou para o condomínio com toda a sua família, exceção feita a Luíza – sua filha – que estaria no Canadá.

A despretensiosa frase poderia passar despercebida. Mas não passou. Por motivos que ninguém saberia explicar, a frase se espalhou pelas redes sociais. Pessoas de todo o Brasil começaram a lamentar a falta que Luíza fazia, afinal, ela está no Canadá. Em pouco tempo, o Brasil se esqueceu dos seus dramas, como as chuvas em Minas Gerais, a grávida de quadrigêmeos ou o estupro no Big Brother.

As televisões começaram a noticiar o assunto – com ênfase na Globo, talvez como forma de mascarar a polêmica do BBB. Gerardo disse que Luíza voltaria ao Brasil no dia 31 de janeiro, mas, assustado com a repercussão, ele pretendia antecipar o retorno para que a família ficasse junta. Como se ela não estivesse mais segura no Canadá.

Luíza deveria voltar ao Brasil no final de semana. Logo, todos foram surpreendidos em uma edição do Bom Dia Brasil de ontem (19.01), que afirmava que ela estava voltando naquela manhã. Menos de cinco horas depois, ela foi fotografada no estúdio do Jornal Hoje, ao lado de Evaristo Costa. Em vídeo, ela disse que tinha acabado de chegar. Lembremos, que um vôo entre o Brasil e o Canadá dura pelo menos 10 horas. E que um deslocamento entre dois pontos em qualquer lugar de São Paulo dura pelo menos uma hora. O horário não bate.

O genial criador da peça publicitária veio a público. Disse que nunca teve a intenção de criar uma frase de tanto sucesso. Que a inseriu no texto, pelo fato de a família ser famosa e que, ao notar a ausência de Luíza no comercial, as pessoas se perguntariam “como assim? Onde está Luíza”. O povo precisava de uma explicação e ele não tinha muitos recursos.

Vejam o vídeo:


A família de Gerardo aparece no comercial por meros quatro segundos. E sua presença é absolutamente desnecessária. Mal daria tempo para se perceber a falta de Luíza no comercial. Quem conhecesse a família, saberia que ela estaria no Canadá e quem não conhecesse a família, nem saberia da existência de Luíza. Os argumentos do publicitário são frágeis e fica claro que ele utilizou a frase por motivo torpe e fútil.

Mas, o publicitário fez ainda outras declarações. Disse que ao saber do sucesso da propaganda, ele resolveu apressar a volta da menina até o Brasil. Ou seja, ele desmente a afirmação feita pelo pai de Luíza, alegando proteção. Ele também diz que Luíza estava por aqui desde o dia 17, ou seja, desde a terça-feira, quando a piada estava em seu auge. Ou seja, enquanto o seu retorno era anunciado, ela já estava aqui. Enquanto as pessoas faziam piada com a sua existência canadense, ela dormia em um hotel em São Paulo. A própria Luíza mentiu em rede nacional, ao dizer que havia acabado de chegar ao Brasil.

A própria Rede Globo conviveu pacificamente com a farsa, entrevistando a menina por telefone, anunciando o seu retorno. Um péssimo exemplo de jornalismo.

E tem mais. De volta ao Brasil, perguntada sobre a vida no Canadá, Luíza disse que não havia nenhuma história para contar sobre sua estadia por lá. E eu pergunto: como alguém não tem nada para contar sobre um país diferente? Você fica meses em um país estrangeiro, com uma cultura diferente, toda uma experiência de vida e não tem nada para contar. Nem do frio que ela passou? E as fotos? Alguém viu uma foto de Luíza no Canadá? Não. Ninguém viu.

Os fatos se encaixam. A história toda é cheia de falhas. Contradições entre as partes, mentiras, manipulações. Seria preciso uma acareação entre todos os envolvidos e só aí se descobriria a verdade. A verdade é que Luíza não estava no Canadá. Ela jamais esteve lá.

O fato é que Luíza não participou do comercial. Porque ela estava na aula de inglês? Tomando sorvete? Porque simplesmente não quis? Ou talvez, porque o comercial visa uma parcela rica da população, pessoas que tem filhos em intercâmbio no exterior e se identificariam com a frase?

Ou será que tudo não passa de uma armação para alavancar a carreira de Luíza, jovem, rica, bonita, em busca do sucesso. Separamos quadro a quadro o momento em que Gerardo diz a já lendária frase. E vejam o que encontramos.

Tirem suas próprias conclusões.

Luíza então “voltou” ao Brasil. Gravou um comercial, que digamos, ficou pronto muito rápido para a estrutura modesta alardeada pelo publicitário. Fica claro, que esta propaganda já estava gravada. Provavelmente foi gravada, logo depois do primeiro comercial.

Fora isso, convenhamos. Ninguém vai para o Canadá. Antes fossem às Bahamas. Só isso já bastava para comprovar a farsa.

Durmam agora, com o peso da verdade revelada pelo CH3.

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