La Garantia Soy Yo

Da série: direitos do consumidor

Talvez as gerações mais novas não saibam. Antes do advento do Rapidshare e do finado Megaupload, baixar filmes, músicas e jogos da internet era uma tarefa bem difícil. Sim, a velocidade da internet também era menor. Pois, nessa época existia um lugar chamado videolocadora. Um lugar de celebração pagã, digo, um lugar em que você se cadastrava, fazia uma carteirinha e então, poderia alugar qualquer título da loja.

E existiu um tempo em que nem sequer os DVDs existiam. Um tempo em que só se conseguia acesso as últimas produções de Steven Spielberg através de elementos pré-históricos conhecidos como fitas VHS. Elas funcionavam em aparelhos de videocassete e, assim que você terminava de assistir ao filme, você precisava rebobinar a fita. O que aconteceria se você não rebobinasse? Não queira saber.
Objeto encontrado em escavações no Novo México

Você então alugava a fita dupla de Titanic (provável que você tenha reservado o filme, de tão procurado que ele era). Chegava em casa, ligava a TV da sala, preparava a pipoca (sim, naquela época você não tinha a preocupação de economizar energia) e criava aquela expectativa. Adiantava os trailers e então… a frustração. A fita estava bichada, cheia de interferência, era impossível assisti-la. E se você tivesse azar – é provável que tivesse – a fita ainda enroscaria no fundo do aparelho, fazendo com que a presença de um cirurgião fosse necessária.

Então, você voltava até a videolocadora, estafado. Informava que a fita não estava rodando. O atendente te olhava como se você fosse um débil mental e colocava a fita no aparelho, com ar desafiador. E é claro, a fita funcionava miseravelmente. O atendente te olhava com desprezo e noticiava que ela estava normal.

O aparelho de videocassete da videolocadora é um dos grandes mistérios da história. Imagino que, se você pintasse toda a fita com errorex, ela funcionaria normalmente sob o olhar blasé do atendente. Tudo isso porque os objetos têm sentimentos. O sentimento de te sacanear. O controle quebrado que funciona normalmente na loja. O celular enguiçado há cinco dias que volta a funcionar milagrosamente com o toque do técnico.

Está funcionando normalmente, senhor
E quando um objeto está na garantia? Objetos na garantia adoram te colocar em situação constrangedora. O celular vai pifando lentamente e sempre volta da garantia como se fosse desfibrilado. Você é informado que nada precisou ser feito, apenas uma limpeza de contatos. Até o dia seguinte ao prazo da garantia, quando apenas um conserto milionário poderá lhe recuperar. Aliás, não se confunda, a limpeza de contatos não significa que você deva excluir sua agenda.

E com os carros? Quando ele estava na garantia, todas as suas peças funcionavam perfeitamente. E esse barulho no porta-malas? É normal, são seus ouvidos decrépitos se degenerando. Mas, quando a garantia vence: “Senhor, precisamos trocar os amortecedores, os freios, a suspensão, a bomba de combustível, o motor e a embreagem. São 15 mil reais”.

Por isso, é muito melhor quando você vai no Paraguai. Você pode comprar um notebook e descobrir que dentro dele existe apenas um tijolo. Mas a garantia será seu vendedor. É uma questão de palavra. Se ele não cumprir, você estará livre para praticar a justiça com as próprias mãos e garantir um final feliz.

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