Safra Específica

Os especialistas no CH3, acredito que existam muitos, são capazes de reconhecer a época de um texto deste blog facilmente. Logo ao ler as primeiras linhas eles pensam “esse é do Gressana”. E vendo o conteúdo, as expressões, acertam a data. Facilmente notam que estão diante de um Tackleberry safra 2008. Percebem notas claras de surrealismo, influências marcantes de Zorra Total ou resíduos de Shakespeare.

Colocam traços biográficos na análise do texto. Percebem uma profunda depressão a partir do tamanho dos parágrafos escritos por Vinícius e atribuem a essa depressão a sua fase de trabalho em uma agência publicitária. “Nessa época ele trabalhava até as duas horas da manhã e se alimentava apenas com pizza barata”.

Ok, creio que existe a possibilidade que estes especialistas não existam. Pelo menos não em relação ao CH3. Porque em relação a muitas outras coisas, eles estão lá. Há quem classifique um verso de Machado de Assis por uma palavra. Saiba o ano, o local e provavelmente se estava chovendo enquanto ele escreveu.

O caso mais famoso dos especialistas exímios de coisas mínimas é dos apreciadores de vinho. Eles podem ser jogados com os olhos vendados no porta-malas de um carro que irá circular pela cidade até um porão desconhecido na periferia. E lá, com os olhos ainda vendados e escutando os sucessos de Luan Santana, lhe oferecerão um vinho.

Mesmo com toda essa situação adversa, o especialista em vinhos irá saber o nome do vinho, a safra, o ano, o tipo de uva. O lugar em que foi armazenado, se ele foi pisoteado ou esmagado em modernas máquinas esmagadoras. Se essa máquina tinha ferrugem ou se a mulher que pisou tinha joanetes. Se cachorros urinavam nos troncos que sustentavam as parreiras.

Existem pessoas que reconhecem se a carne era de boi ou de vaca. Se esse boi teve uma infância feliz, se corria por verdejantes colinas ou se recebia chutes nos testículos. Pessoas que conseguem enumerar os temperos do molho da macarronada. Um por um e se estavam frescos ou não.

O mesmo ocorre com os sotaques. Há quem ao escutar um nordestino, perceba que não é apenas um nordestino. Que ali está um legitimo sotaque potiguar. E mais, característico de Mossoró. Muito provavelmente, a pronuncia do R nos remete para origens na Rua III, do outro lado da ponte. Provavelmente na casa da Dona Marta.

Claro que alguns erros podem acontecer. As vezes, você pode achar que está diante de um Ojo de Toro 83, colhido por virgens laosianas. Mas, na verdade, tomou só um copo de mijo de vaca.

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