A Pátria do UFC

Júnior Cigano, Rodrigo Minotauro, Maurício Shogun. Há pouco tempo atrás você perguntariam se eles eram personagens de algum filme nacional. Hoje eles são seus ídolos. São ídolos nacionais. Seus pôsteres enfeitam os quartos de meninos e meninas de nosso país. E Anderson Silva? Elevado a condição de ícone, semideus é pouco para descrevê-lo. Peregrinos veneram suas estátuas espalhadas por nossas ruas. Sua voz fina monopoliza os reclames do horário nobre televisivo.

Em épocas remotas, o cidadão médio ficava acordado de madrugada para ver lutas de boxe. Principalmente se esta luta envolvia o Mike Tyson. O evento começava tarde, era disputado em um grande cassino de Las Vegas onde senhores engravatados assistiam o sangrento espetáculo.

Haviam as lutas preliminares que demoravam uma eternidade. Até chegar ao confronto principal, quando dois homens de 100 kg se socariam na cara. Ou melhor: quando um ser humano seria socado na cara por Mike Tyson em uma luta que não durava sequer dez minutos.

Sempre existiram as pessoas que consideravam o esporte violento. E, de fato era, não há dúvida que quando um cidadão bate na cara do outro até que o outro caía no chão quase desmaiado é algo bem violento.

Mas o boxe ficou para trás. Hoje, as pessoas se juntam em bares, se enrolam em bandeiras do Brasil e ficam acordadas até de madrugada para ver o UFC, uma competição de MMA. Se havia quem achava que o boxe era violento pelo simples fato de que pessoas trocavam socos com luvas acolchoadas, o que dizer quando além de socos na cara, esses dois cidadãos podem trocar chutes, joelhadas, cotoveladas, cabeçadas. Se um deles cair no chão, as cotoveladas podem continuar. Os dois ficarão rolando de sunga em um ato homoerótico.

Mesmo sendo quase uma competição de balé próximo ao UFC, o boxe tinha uma vantagem. Ele permitia grandes histórias. Veja o caso de Rocky, o Lutador. O maior filme de todos os tempos. Este grande épico sobre a existência humana seria possível se Rocky fosse um lutador de MMA? Não. Ninguém agüentaria ver Rocky e Ivan Drago se agarrando de sunga no chão, em uma final simbólica da guerra fria.

Mas a luta livre dominou nossa sociedade, junto com a comédia Stand Up. Vejam nossas ruas. Ao invés de campinhos de futebol, vemos octógonozinhos. Ao invés de chutar bolas, as crianças chutam a cara uma das outras. Os pais vibram e estimulam a violência. Um traumatismo craniano é comemorado com a fúria de um gol marcado no último segundo da final da Copa do Mundo.

E o símbolo da consagração do UFC é a narração de Galvão Bueno. Neste mundo globalizado, nós só sabemos da importância de um evento se Galvão estiver lá. O que seria a final da Copa do Mundo se Galvão não estivesse lá? Ninguém se irritaria com aquilo, pensando “meu deus, cale a boca, cale a boca seu corno!”. E ninguém pararia para pensar “opa, ai tem algo”.

Galvão dizendo Júnior, Júnior, Júnior Ciiiigano! A vinhetinha de Brasil-il-il-il e tudo o mais que está envolvido mostram a vitória do UFC. Somos a pátria de coquilhas.

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