O Agente Puxador de Palmas

Dom Pedro I se virou ao público e disse “se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que eu fico”. Foi aplaudido calorosamente. Testemunhas contam que em alguns lugares chegou a se escutar o coro de “Olê, olê, olê, olê, Pedro, Pedro”. Daí em diante, foi um passo para que o Brasil conquistasse a sua independência e para que o homem chegasse a lua.

E o momento chave desta grande história não foi a histórica frase de Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon. Até foi. Mas, uma frase não seria uma grande frase se não fossem as palmas. As palmas é que comovem, as palmas é que criam o clima para o momento histórico.

Imagine se este momento fosse seguido por um absurdo silêncio. Se as pessoas que andavam na rua apenas olhassem para aquele homem de barba excêntrica e seguissem o seu caminhar com desprezo. Imaginem. Até hoje seriamos uma colônia portuguesa, escutaríamos fado, torceríamos por Cristiano Ronaldo e a cura da AIDS não teria sido descoberta.

Pense então na importância do sujeito que puxou as palmas para Dom Pedro. Sim, porque as palmas não começam espontaneamente. Há um cidadão que começa primeiro. E assim que ele começa, a multidão o segue. Este cidadão tem a coragem de se manifestar e leva em sua esteira ensurdecedores aplausos anônimos.

Há casos simples. Em uma simples palma já acende a fagulha ovacional. Mas existem os casos difíceis. Aqueles em que o cidadão começa a aplaudir e pode ficar por minutos assim sem ser acompanhado. Até que as pessoas se convençam de que os aplausos eram merecidos e assim a revolução poderá começar.

Mas é claro. Existem situações complicadas. Aquelas nas quais você começa a bater palmas e ninguém o acompanha. Ninguém. Você fica pateticamente batendo palmas como se fosse um ser execrável. Algumas pessoas passam por isso várias vezes em suas vidas.

E não digo aqui que sejam as pessoas que tem o sonho de puxar aplausos. Elas existem e vivem suas vidas em busca desse ideal de decepções e glorias. Mas, existem os puxadores de aplauso profissionais. Ou, como queira o Jamelão, os interpretes de aplauso.

São pessoas que ganham dinheiro para isso. Sim, essa profissão existe. Você pode pensar “porra, mas que forma fácil de ganhar dinheiro”. Mas não é. Um bom puxador de aplausos precisa ter um feeling imenso. Uma energia espontânea. Precisa ser um quase Messias. Alguém que comova o público e veja legitimidade em seu ato.

Puxadores de aplauso consagram políticos, discursadores e charlatões em geral. Puxadores de aplauso constroem momentos históricos. Imagine que tenha sido um desses que consagrou Dom Pedro? Ou que tenha consagrado Martin Luther King? Que um deles tenha gritado “é isso aí!” e comovido a multidão. Onde estará seu deus se tiver sido assim? Heim?

Trabalhemos pela regularização da profissão. Por uma sociedade em que os aplausos sejam mais emotivos. Vale lembrar que com o advento da claque, a profissão caiu em desgraça e vem perdendo espaço.

Comentários

Anônimo disse…
Rsrsrs,

Como anda o mercado de trabalho pro O Agente Puxador de Palmas ?

Tenho interesse