(In)correções

A divisão do mundo entre os politicamente corretos e os politicamente incorretos é uma realidade. As classes se dividem como se fossem o preto e o branco, a noite e o dia, o Yin e o Yang, o Rick e o Renner. Não é possível dizer quando esta segregação começou, mas ela existe. Uma divisão que só não levará até uma guerra civil porque um dos dois lados seria contrário a este ato.

Talvez a culpa seja do Lula. Afinal, foi em seu governo que a Cartilha do Politicamente Correto foi lançada. Um livrinho que nos orientava a extinguir os anões, comunistas, pernetas e macumbeiros de nosso vocabulário. Deveríamos preferir cidadãos prejudicados verticalmente, seguidores de Karl Marx entre outros. Mas, o governo lançou a tendência ou apenas atendeu os pedidos da população?

O fato é que estamos prestes a entrar em uma ditadura do politicamente correto. Ou, em um estado de exceção, afinal, ditadura é uma palavra forte. Leis são criadas proibindo as pessoas de falar palavrão em estádios de futebol, de apontar o dedo e rir de pessoas estranhas e... bem. Existe uma polícia formada por leitores de Gabriel Chalita que usam camisa pólo e gel no cabelo, para fiscalizar nossos atos.

Por outro lado, temos os politicamente incorretos. No geral as pessoas que se auto-intitulam desta maneira não passam de babacas, integrantes de bancadas de programas humorísticos, que se acham engraçadas e fazem piadas em todas e qualquer situação. Até no velório da própria mãe.

O politicamente correto dificulta muito a descrição física de uma pessoa, como mostra o seguinte diálogo fictício.
- Cara, quem é Paula?
- Bem a Paula... ela é... ahn... ela é... tem uma altura é... mediana e é... ahn, meio que, ah... digamos... é... forte.
- Ah é uma baixinha gorda?
- Não, não, não é.
- É essa daqui da foto?
- Sim.
- Então, é ela mesmo. Cara ela tem uns 180 kg!
- Ahn..
- Uma baleia! Muito gorda!
- Bem... é...

Encontramos um exemplar de cada espécie e colocamos uma câmera para flagrar suas atitudes, como se fosse um documentário do Discovery Channel.

Situação 1: uma velhinha espera para atravessar uma rua movimentada.
PC: Em primeiro lugar, não se trata de uma velhinha. Este termo é muito pejorativo. Falamos sim de uma senhora que está em sua melhor idade. Alguém que muito viveu e que sem dúvida terá muito a ensinar para mim, para você e para todos nós.
PI: Com certeza essa velha já viveu muito e não vai ter problema de esperar mais um pouco para atravessar a rua. Agora imagina se eu roubo a bengala dela! Hahaha, ela vai demorar um ano para atravessar. Capaz de ser atropelada e ainda sujar o carro.

Situação 2: A televisão exibe um programa com anões de circo.
PC: Olha a situação dos portadores de nanismo é complicada. Mas, eles são cidadões como todos nós e não tem mais problema do que eu e do que você. Não há motivo para humilhá-los. Estas atrações circenses são um absurdo.
PI: Hahahahahahahaha! Cara! Olha lá um anão! Hahahaha! Olha o jeito que ele anda! Hahahahah! Olha o tamanho dele, velho, hahahahahahahahahahahahaha.

Situação 3: Um cidadão que é comunista e macumbeiro pede emprego a você.
PC: Nosso Estado garante a liberdade religiosa e também a liberdade política para mim, para você e para todos nós. Não há motivo para discriminação sobre estes assuntos.
PI: Macumbeiro e comunista! Deviam queimar vivo esse cara!

Situação 4: Um cidadão bêbado avança o sinal vermelho e bate no seu carro.
PC: Este cidadão em estado etílico cometeu uma grave infração de trânsito e terá que arcar com os custos de sua ação inconseqüente, igual aconteceria comigo ou com você.
PI: Filha da puta! Chifrudo! Chupa meu pau, seu engolidor de piroca! Não viu o semáforo fechado, cachaceiro veado! Vai se foder!

Situação 5: Seu time perde o campeonato graças a um gol marcado aos 54 minutos do segundo tempo. Detalhe, o jogador adversário estava impedido, dominou a bola com a mão, empurrou o goleiro no chão e chutou a bola para fora. Mesmo assim, o juiz validou o gol e expulsou 7 jogadores do seu time.
PC: Este é o futebol, um esporte emocionante onde nem sempre a justiça acontece. Mas o que podemos fazer?
PI: Juiz filho da puta! Tomar no cu seu ladrão do caralho! Porra! Porra! Como assim! Porra! O cara tava impedido! Dominou com a mão! Porra e essa falta! E o cara chutou pra fora! Caralho! Ahhhhhh! Eu vou quebrar tudo! Ahhhhh, vamos quebrar tudo porra! Ahhhh!

Veja com qual perfil você se identifica mais e ai... ai, sei lá, faz o que você quiser pô.

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