Nestor, o homem que não sabia presentear

Nestor era um homem como tantos outros. Não saberia descrevê-lo, porque eu sou péssimo fisionomista. O que importa é que é ele era o homem que não sabia presentear. Todos nós sabemos que é difícil dar presente para alguém. Nestor não tinha problemas em comprar. Ele sempre presenteava. O problema é que ele não sabia medir os presentes.

Quando era jovem, Nestor foi acompanhar sua namorada no aniversário de um amigo dela.
- Oi, esse aqui é meu namorado Nestor.
- Tudo Bom?
- Tudo sim. Prazer conhecer. Eu trouxe um presente pra você.
- Que é isso, não precisava.
- Nada, só uma lembrancinha.
- Ah, um chaveiro que legal.
- O Jaguar está parado ali fora.

Sim, o Jaguar estava parado do lado de fora. Assim era Nestor, ele não tinha noção da importância do presente que ele teria que dar. É histórica a situação de um amigo oculto do trabalho em que ele tirou o nome do vigia. Qual foi a surpresa do vigia ao abrir o embrulho.
- Uma máquina digital!
- É, da Nikon. 10.2 megapixels, lente removível. Você gosta de botar fotos no Orkut, achei a sua cara.

Você já deve estar pensando “nossa, eu deveria ser amigo desse cara”. Mero engano. No ano seguinte, no mesmo amigo oculto, ele tirou o nome do seu melhor amigo. O presente? Um CD do Renato Russo cantando em italiano.

Quando ele foi convidado pra ir ao casamento de uma vizinha que mal conhecia, surpreendeu ao presentear os noivos com uma viagem de 15 dias, com tudo pago em Paris. Quando foi padrinho no casamento da sua irmã, surpreendeu os noivos com uma frigideira. “Sei que você adora um ovo frito”, disse.

E quando ele deu um Dogue Alemão para um amigo que morava numa kitnet? Como alguém recusa um presente assim?

Teve apenas um filho, quando tinha 14 anos. O anúncio de que seria pai tão cedo foi o seu presente de Natal para toda a família. Depois ele se casou e no seu aniversário de 25 anos de casamento deu uma caixinha para mulher. Ela abriu a caixa com os olhos marejados. Dentro, encontrou um bombom sonho de valsa.

Quando Nestor morreu, ele deixou claro em seu testamento que queriam que estudassem o seu cérebro. O problema, é que ele deu seu cérebro de presente para o seu filho. Seu dinheiro ficou com os cientistas. Sua casa com os mórmons. Seu carro com a filha da empregada. Seu filho só com o cérebro mesmo.

Psicólogos imaginam que Nestor era inseguro. Quando ele conhecia bem a pessoa, dava algo que ela gostava. Sua irmã gostava de ovo, uma frigideira. Sua mulher de chocolate, um sonho de valsa. Quando ele não conhecia a pessoa tentava agradar. Seu cérebro pensava "hmm, acho que ele vai gostar de mim se eu der um Jaguar". Psicólogos avaliam que, provavelmente, Nestor queria comer sua mãe.

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