Imprecisão dos fatos

Foi a grande notícia do dia de ontem. Um grande acidente de proporções incalculáveis atingiu uma multidão de carros em uma rodovia paulista. Logo alguns sites noticiaram um acidente com um caminhão. Depois, 20 carros se chocaram. Logo passaram a ser 50. Um site soltou: 70 carros. Outro que foram 150. Correram boatos de que eram quase quinhentos carros.

Dormi pronto para acordar hoje com a notícia de que não haviam mais automóveis em São Paulo. Foi então que saíram os números oficiais. Foram 270 carros.

Curioso como essas coisas ocorrem. Imagino que seja um processo parecido com o do telefone sem-fio.
- Viu o acidente, vinte carros bateram?
- Viu a batida? Parece que foram vários carros. Uns 50.
- Mais de 100 carros bateram, viu?
- Batidaça. Morreram 100 pessoas.
- 200 mortes? Bateram quantos carros, 500?
- 1500 carros. Vários mortos. Rodovia interditada.
- Foi feio. A estrada ficou destruída. Acho que mais de mil dias pra consertar.

Eu me lembro bem, lá pelos idos de 1998, o piloto Christian Fittipaldi sofreu um acidente na Fórmula Indy. Primeiro, parecia que ele tinha sofrido hematomas. Logo passou a ser uma fratura. Fratura dupla na perna. Fraturas múltiplas na perna direita, fratura da tíbia da perna esquerda e deslocamento do pulso direito. Mais um pouco e ele estava em coma. Felizmente a corrida acabou antes que os narradores precisassem dizer “Christian foi um grande piloto... um grande homem...”.

Mas as coisas não ocorrem apenas no aumentativo. As proporções diminuem com o passar do tempo. Lembrem-se dos atentados nas torres gêmeas de Nova York? Bem, sim, imagino que vocês se lembrem deste fato.

Logo que as torres caíram, aquela tragédia toda, os jornais falavam em 20 mil mortos. Mais um tempo e eram 10 mil, 5 mil. Hoje o número oficial é de 2996 vítimas. E já há quem diga que os atentados não ocorreram, tal qual o homem nunca pisou na lua e Paul McCartney morreu em um acidente de carro em 1966.

Neste caso o processo é o seguinte:
- Você vê o negócio pegando fogo e pensa “caramba, morreu gente de mais. 200 mil mortos, no mínimo”. Com o tempo, você vai se acalmando e começa a raciocinar. “Pensando bem, não deve ter morrido ninguém”.

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