Compra Coletiva

* Perdão se não incluí tal coletiva no último post.

Já faz algum tempo, que as compras coletivas estão na moda. Atualmente existem aproximadamente 893 sites especializados no negócio, que funciona da seguinte maneira: uma empresa oferece um produto com desconto. Só que para o negócio valer a pena para empresa, muitas pessoas precisam comprar. Ela então anuncia a oferta no site para que mil pessoas comprem o pacote de jujubas por 50 centavos, ao invés de R$ 3.

É a velha lei da oferta e da procura. Mais pessoas, mais dinheiro, menos ele custa. Ligue para o professor de economia mais próximo a você para esclarecer qualquer dúvida eventual sobre o assunto.

Então as pessoas começam a comprar, comprar, comprar. O que atraí as pessoas? Mais do que o preço, é o desconto. Se você estivesse andando na rua e visse um pacote de jujubas por cinqüenta centavos, é provável que nem prestasse atenção. Mas, a partir do momento em que você sabe que ele custava três reais, ou seja, que você vai pagar um sexto do valor, o negócio passa a ser interessante. Você pensa em toda a vantagem que terá adquirindo aquilo.

E sabe o que é cruel? No final, o preço oferecido pelos sites de compra coletiva é o preço justo do produto. Sim, porque a empresa abre mão do seu lucro abusivo e continua com um lucro seguro.

Certa vez, eu fui para o pantanal, glorioso pantanal matogrossense em uma dessas promoções. A oferta era de um desconto de 200 reais. A diária num quarto para quatro pessoas passava de R$ 350 (note nossa ausência de padronização numérica) para R$ 150. O que se imagina? Que fantástico, que lucro sensacional.

Quando você chega ao tal hotel, após uma batalha pela transpantaneira, percebe o fato: R$ 150 seria um preço justo pela diária. Pelo serviço que oferece lençóis com cheiro de desinfetante, uma água barrenta saindo da torneira, quartos sem televisão. O que é importante, porque depois das cinco, no pantanal, só lhe resta ficar trancado no quarto, para não ser devorado pelos insetos.

Mas o hotel deve ter uma infraestrura sensacional, não? Não. Piscina, mesa de sinuca (que pode ser usada até as 17h, porque depois as bolas parariam nos besouros). Um jantar bem mediano, que é servido em qualquer lugar – sim, imagine ir ao pantanal e não ter peixe! Claro que existiam passeios, em que você vê tuiuiús dançarinos do seu lado, gaviões amestrados e até cutuca o toba de uma onça. Pelo custo de R$ 50 por pessoa.

Ou seja, o quarto com água barrenta não poderia custar quase cem por pessoa. O preço promocional era mais do que justo e o enorme desconto só ajuda a criar a imagem de uma experiência monárquica por preço plebeu.

No final, o grande negócio das compras coletivas, é que elas estimulam os consumidores a comprar os produtos, porque é um preço justo. O grande problema é justamente a ilusão lucrativa. Mas talvez, a justiça já seja lucrativa, ou não.

Há ainda outro problema, que em muitos lugares, as lojas atendem mal os clientes de compras coletivas. É como se pensassem “esses pobres só estão aqui pelo desconto, vão se foderem”. Um marketing reverso.

Já ouvi relatos de serviços de quarenta minutos serem executados em menos de 10. De que um prato adquirido na compra coletiva veio menos preparado que o adquirido normalmente. De cuspe na comida, e cabeleireiros (a palavra mais feia do nosso dicionário) degolando cidadãos que compraram um corte no peixe urbano.

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