Lei da Compensação

A lei da compensação é uma das mais antigas leis do futebol. Mais antiga do que a Lei de Gil, do que a lei de Gerson. Antepassada da Lei de Impedimento, da Lei de Newton. Contemporânea da Lei de Talião. Enquanto o Código de Hamurabi dizia “olho por olho, dente por dente”, no sentido da plena vingança, a Lei da Compensação diz isso no sentido da ajuda. “Me salva um dente que te salvo outro”.

É aquela velha história de que uma mão lava a outra. Poderia agora, me alongar por parágrafos e mais parágrafos citando expressões populares e contextualizando-as com o tema deste texto. Mas não vou fazer isso, juro. Afinal, água mole em pedra dura tanto bate até que fura.

A lei da compensação pode ser perigosa, gerando um incrível efeito dominó. Sim, isso também ocorre com a vingança. Sabemos que quando um vizinho arranha a lataria do seu carro, a vingança exige que você queime a casa dele. Mas, este é um caminho que leva a uma solução rápida. Todos estarão mortos antes que alguém tenha que apelar para uma versão ao vivo de Seres Humanos de Roberto Carlos.

Na lei da compensação é diferente. Ela busca que tudo esteja em total equilibro, em uma balança perfeita. Mas, como nós sempre queremos levar vantagem em tudo, sempre tentamos ficar com algum crédito a ser compensado futuramente. Vejamos o caso do juiz de futebol.

O juiz marca uma falta errada para o time A. Duas faltas erradas. Se o time A for o Corinthians, ele continuará marcando faltas erradas, pênaltis, expulsará o goleiro do adversário e ainda será promovido. Mas, se for qualquer outro time, ele ficará em dúvida quanto a sua ação.

Tanto que ele logo dará um cartão amarelo para o zagueiro do time A, em um lance bobo. Na seqüência ele marca um escanteio equivocado para o time A. Só que desse escanteio sai o gol. Logo, ele marca um pênalti inexistente a favor do time B. Para compensar isso, ele expulsa um jogador do time B. Anula um gol legal do time A. Dá um esporro no gandula. Logo ele começará a medir os seus erros, pensando nos próximos erros que ele terá que cometer. Ninguém poderá reclamar da imparcialidade, apenas da sua incompetência.

Mas o juiz é um mediador. Alguém que age pensando nos dois lados. Como a lei da compensação ocorre quando apenas dois indivíduos estão na jogada? E aqui não falo de dois indivíduos nus em uma cama com lençóis sujos. Falo da sua vida rapaz, da sua vida. Das suas relações. Vamos todos botar a mão na consciência e pensar sobre isso.

Imagine que você está andando em algum lugar. Começa a tocar Seres Humanos de Roberto Carlos. Um amigo seu aparece e... bem, não há como fazer algo melhor por alguém que evitou que você escutasse Seres Humanos de Roberto Carlos. Exemplo anulado, vamos pensar em outra situação.

Digamos que você está andando na rua. Convenhamos que você anda e que eventualmente anda na rua. Começa a chover. Sim, neste exemplo a rua é sujeita a chuva. Seu vizinho aparece e te dá carona. Você fica agradecido a ele. Depois ele te pede ajuda para carregar um fogão. Você ajuda. Depois é ele que te ajuda a pintar um muro. Você empresta dinheiro para ele. Ele leva seu filho no colégio. Você agiliza a cota do churrasco. Ele pega as suas correspondências enquanto você saiu de férias.

Assim seguirá, até o momento em que alguém será cúmplice em um crime de ocultação de cadáver.

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