Se For Comprovado

O sujeito estava enfurecido. Ensandecido. O pastor diria que ele estava possuído pelo demônio. As imagens são claras. O indivíduo acelerou o seu golf azul escuro sobre um grupo de ciclistas. Depois de passar sobre as primeiras vítimas, ele continuou acelerando até atingir um total de 12. Sim, 12. Uma dúzia de atropelamentos acidentais e, além disso, ele estava sendo provocado.

Ok, todos nós sabemos que uma boa vingança deve ser muito mais violenta do que o ato que a motivou. Se os ciclistas o estavam chamando de “gordo panaca” ou algo parecido, a melhor solução realmente seria o atropelamento coletivo. Não se discute isso. Vingança é vingança e ponto final. Acontece que os tempos em que se fazia justiça pelas próprias mãos ficaram para trás.

Pois as imagens eram claras. Qualquer um que veja aquilo percebe que o sujeito estava incontrolável e agiu friamente. Só poderia ter sido um acidente caso ele tivesse morrido ao volante no exato instante anterior ao começo do atropelamento. Não há dúvidas de sua culpa.

Talvez não haja dúvidas para você e para mim. Mas os responsáveis por investigar o caso dizem que ele será indiciado se for comprovada a sua culpa.

Talvez seja a responsabilidade jurídica dos investigadores, mas esses casos que envolvem filmagens são sempre engraçados. Lá está o deputado embolsando mil reais para aprovar um projeto. Lá está o médico vendendo um atestado por duzentos reais e fazendo piada com a situação. Eles serão punidos se as denúncias forem comprovadas.

O que mais é preciso para comprovar uma situação dessas? Foi filmado, gravado. Pessoas testemunharam que aquilo foi uma barbaridade. Como assim, se for comprovado? Como não poderia ser verdade?

Uma das hipóteses é acreditar que aquilo foi uma grande edição de áudio. Ou imagens de computador, quem sabe. Hoje em dia existem programas avançados para isso, ninguém nem percebe que são simulações computadorizadas. Ou, quem sabe, foi uma encenação. O médico vendeu a sentença como simulação para uma aula sobre ética na faculdade. O cara atropelou os ciclistas para a cena de abertura do próximo filme do Bruce Willis. Eram todos atores, dublês profissionais.

E claro. Como há de se garantir que houve culpa? O sujeito pode dizer que não queria fazer aquilo, queria só dar um susto. Infelizmente o freio do carro enguiçou. E o médico? E mesmo que ele admita a culpa, como não saber se ele está mentindo? Que na verdade ele quer viver na prisão e está querendo se complicar numa situação em que é completamente inocente. Como comprovar que na verdade eles não estavam jogando banco imobiliário? Que os 200 reais eram de uma aposta de pôquer antiga? E que ele era muito intimo da paciente e por isso falava em vender o atestado? Complicado demais.

Em tempos. Não está comprovado que esse texto foi postado.

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