Botar No Bloco

“Eu quero é botar meu bloco na rua. Gingar para dar e vender”

Sérgio Sampaio foi um cantor e compositor capixaba. De nome, é provável que você não o conheça. E, assim como eu, é bem capaz que você jamais tenha visto uma fotografia do mesmo. No entanto, ele é o autor da música cujo refrão é citado acima. Um hit daquelas rádios especializadas em clássicos dos anos 70/80. Tal música, intitulada “Eu quero é botar o meu bloco na rua”, foi lançada em um álbum homônimo no ano de 1973.

Se Sérgio tinha ou não um bloco e se ele realmente queria o colocar na rua, nós não sabemos. Não sei se ele respondeu tal questão antes da sua morte, em 1994, ou se algum biógrafo, amigo próximo tem a resposta. Não sabemos sequer, se alguém já teve essa fundamental dúvida anteriormente. Como eu vou saber isso? O que eu ganho com isso? Talvez a letra seja apenas uma metáfora sexual (procure no Google, você vai entender¹).

Mas, caso esse bloco realmente existisse, é altamente provável que ele tivesse um nome pornográfico. Não sei o motivo, mas todo bloco de carnaval tem um nome sacana, erótico e até certo ponto, asqueroso. Imagino que exista um Acordo Internacional para a Fundação de Blocos Carnavalescos (AIFBC – e a frustrante arte de não criar siglas engraçadas) exista um artigo que obrigue a isso.

“Art. 7º. Todo Bloco Carnavalesco que for fundado a partir da presente data, deverá ter em seu nome um trocadilho erótico e/ou palavras consideradas de baixo calão, referentes às genitálias”.


Veja só, no caso do simpático e acolhedor município de Santo Antônio de Leverger, vizinho da nossa calorosa Cuiabá. Lá existem os tradicionais “Xana Xerosa”, “Pau Brilhoso” e “Seu que Brilha³”. Por toda região ainda existem os “Urubu Cetões”, o “Socar Alho” e o criativo “Há Jacu No Pau”.

Imagino que a culpa seja daqueles papos de “ah, carnaval, festa popular, alegria do povo, putaria desenfreada”. Os nomes dos blocos tentavam capturar essa aura engraçada, divertida, festiva, desenfreada do carnaval. Daí surgiram nomes como “Concentra, mas não sai”, “Me Beija que eu sou cineasta”, “Envergo mas não quebro” e “Suvaco do Cristo”.

Logo, os nomes foram ficando mais putões como “Vem ni mim que eu to facinha” e “Perereca Imperial”. Daí para a sacanagem explícita foi um passo. Imagino que os foliões (O Ministério da Saúde adverte: o uso do termo “foliões” deveria ser proibido pela convenção de Genebra) devam perder horas pensando em um nome bem sacana. Talvez seja mais fácil se você tiver um criador de nomes de filme pornô na equipe. Alguém que já criou pérolas como “Jorrada nas Estrelas” e “7 ânus no Tibete” deve ter facilidade.

O CH3 até pensou em criar um bloco de carnaval esse ano. Mas, paramos justamente na criação do nome. Não poderia ser um simples “Bloco da Alegria”. Houve a possibilidade de usar “Como umbu ser tão gostoso”, mas, era um nome muito longo e metade das pessoas não entendeu o trocadilho. Cão leproso, frustrado, foi enxugar suas lágrimas com o cancelamento do desfile.

Mentira. A gente não pensou em nada disso não.

¹Sempre que você sugere que uma música pode ter conotação sexual, as pessoas passam a acreditar. Quentin Tarantino demonstra isso em seu filme Reservoir Dogs².
²É altamente cult citar o nome do filme no seu original, para que vocês incultos busquem no Google o resultado.
³Existem polêmicas sobre a grafia do nome deste bloco. Poderia ser “Seu que brilha” sugerindo um trocadilho de Se-u com C.U. Ou mesmo “Seu cu que brilha”, de maneira mais direta.

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