Nacionalismo Babaca

O polonês Robert Kubica é um dos grandes talentos recentes da Fórmula 1. Em quatro anos na categoria, tem conseguido resultados bons e constantes, mesmo sem ter o melhor carro e é apontado como um futuro campeão. Foi o primeiro piloto do leste europeu a ganhar uma corrida na competição. Nesta temporada, ele correria pela Lotus Renault, ao lado do russo Vitaly Petrov. O brasileiro Bruno Senna seria o piloto reserva.

No último domingo, Kubica sofreu um acidente em uma prova de Rally. Ele perdeu o controle do seu carro e bateu de frente em um Guard Rail, que se partiu e atravessou o carro, ferindo o piloto de 26 anos. Sofreu múltiplas fraturas no braço e na perna direita. Sua mão quase foi decepada e ele passou por uma cirurgia de 7 horas, para reconstituir a estrutura nervosa do membro, que corria o risco de ser amputado. Ainda não se sabe se ele recuperará todos os movimentos da mão e se ele votará a pilotar novamente.

O programa Fantástico – vulgo show da vida, a sua revista semanal – noticiou o acidente, afinal, a Rede Globo é a emissora que transmite a Fórmula 1 no país. Zeca Camargo fez a chamada para a matéria, que seria transmitida no bloco seguinte. Com um sorriso no rosto, chamou “a seguir: o acidente que pode dar a Bruno Senna, uma vaga em uma equipe de ponta na Fórmula 1”.

Ou seja: dane-se o polonês (diria Hitler). Sua mão, sua vida, sua carreira. Que ele morra o mais rapidamente. O importante é que um brasileiro saía no lucro com isso. Seria como se uma televisão britânica noticiasse “a seguir: o acidente que promoverá a estréia de David Coulthard na Fórmula 1”. O acidente, no caso, é o que provocou a morte de Ayrton Senna.

Não vejo o brasileiro como um povo extremamente nacionalista. Desse que se importa com as questões nacionais, do dia-a-dia do país. Pouco se importa se o governo usa dinheiro público para limpar a bunda. Mas, no geral, o brasileiro se importa muito com a imagem do país lá fora. Uma espécie de nacionalismo viadinho (desculpa, professor) que fica ofendidinho quando o Stallone faz uma piada sobre o país. Faz campanha no Twitter contra os Simpsons e pede a pena de morte para o estrangeiro que fale mal das ruas sujas do país. Mesmo que esse brasileiro jogue papel na rua.

E diante das questões esportivas, quando a bandeira brasileira está sendo mostrada para o mundo, o povo se transforma em brasileiro com muito orgulho e muito amor. Existem algumas razões que poderiam explicar o porque disso. O orgulho nacional entra em campo com os jogadores e dá cambalhotas junto com Diego Hypólito.

Por outro lado, o atleta também está a um passo de virar o símbolo do fracasso nacional. Aquele que desonra as cores de bandeira e que deveria ser julgado dentro das leis militares, por trair a pátria.

Vale tudo para esse sucesso. Nas provas de Fórmula 1, Galvão Bueno vive torcendo para que os pilotos da frente se explodam, para que os brasileiros ganhem posições. É o popular “tá ficando bom pro Rubinho!”.
IGB*
“Olha lá amigo, o Rubinho em sétimo. O Kubica e o Rosberg ainda vão parar no boxe, ele tem mais carro que o Petrov e o Sutil. Tem tudo para ficar em terceiro, atrás do Alonso e Hamilton. E amigo, vai sair faísca dessa briga. Quem sabe os dois não se acham no caminho e o Rubinho leva essa! Seria lindo ver a bandeira brasileira no lugar mais alto do pódio, nessa data tão marcante para o esporte brasileiro, afinal, fazem 50 anos que....” – resumo da história, Rubinho termina em sétimo.
É possível torcer por fraturas que facilitem o caminho dos nadadores brasileiros. Que um terremoto destrua a Argentina, fazendo com que o Brasil herde uma vaga no basquete. Não sei se os italianos comemoraram com gritos de “Agarrou! O padre irlandês agarra o brasileiro Vanderlei Cordeiro! Isso é bom para o nosso Stefano Baldini que pode assumir a liderança da Maratona!”.

Não perca nosso próximo post. O acidente nuclear que pode devastar o hemisfério norte e transformar o Brasil na maior economia do mundo!

*Intervenção Galvão Bueno.

Comentários

alexintheworld disse…
O q vc escreveu está corretíssimo, o brasileiro nao quer melhorar, ele quer q o adversário melhor se dê mal para que ele saia na frente. Isso não acontece só nos esportes, mas em toda a sociedade. Só tenho uma palavra a dizer: LAMENTAL~!!!! rs