Corra!

Forrest, corra! Lola, corra! Para as montanhas.

Hoje, dia 10 de janeiro de 2011, a humanidade pode respirar em paz. Pelo menos a humanidade cuiabana. Enfim, a Corrida de Reis terminou. Apesar de a corrida em si, ter começado apenas ontem e não dure mais do que três horas, para aqueles que vivem em Cuiabá a Corrida de Reis dura meses. Na verdade, ela ainda não terminou. A Corrida de Reis ocupa metade do calendário local.

Três meses antes do evento, quando todos ainda pensam nas suas contas, na reta final do campeonato brasileiro e ainda não tiveram nem saco para pensar no Natal, a nossa televisão já começa a noticiar que os preparativos para o evento já começaram. As inscrições já começaram, corra! Porque as vagas são limitadas. Mesmo que depois, eles prorroguem o prazo de inscrição até a véspera, porque as vagas ainda não foram preenchidas.

Corridas de Rua acontecem todos os dias, nas mais diversas cidades do planeta terra. Corridas singelas, de alguns quilômetros, passando pelas tradicionais maratonas e até mesmo pelas ultra-maratonas, eventos preparados para sado-masoquistas, que resolvem correr durante mais de um dia inteiro.

Mas, nos conseguimos passar incólumes a estes eventos. Porque uma corrida é um evento muito chato para quem não está correndo. Ver o povo correndo, correndo, correndo, correndo, correndo. Uma hora depois, eles estão lá ainda, correndo, correndo, correndo e correndo. Depois de duas horas, finalmente o primeiro colocado chega. Um minuto depois, o segundo colocado. Não há disputa, brigas pela vitória. Apenas pessoas que correm, correm e correm.

Só que existe a Corrida de São Silvestre. Disputada sempre no dia 31 de dezembro, coincidentemente, o dia de São Silvestre – que foi o 33ª papa da história e morreu justamente neste dia, estragando o réveillon da família. Silvestre conseguiu promover a paz (através da carnificina) no Vietnã, Afeganistão e Birmânia. Derrotou Apollo Creed em um desempate. Tornaram-se amigos e em uma emocionante disputa na União Soviética, derrotou Ivan Drago – que havia matado Apollo – na maior luta de boxe da história. Silvestre também impediu que um cretino promovesse o terror dentro de um supermercado.

A corrida de São Silvestre é o mais emocionante evento esportivo do planeta terra. Os maiores atletas do mundo juntos pelas ruas da maior capital do universo, celebrando o esporte, a harmonia a união dos povos na passagem do ano. Um evento único. Emocionante. Inebriante. Aconchegante. Assistir a corrida é como nascer de novo. É como tocar o céu com os próprios pés.

A primeira edição da São Silvestre foi disputada em 1925. Ela foi criada por Cásper Líbero, antigo profissional da imprensa, que atualmente é uma faculdade. A idéia dele era usar a corrida para promover o seu jornal, por mais que muito provavelmente ele falasse que queria promover a saúde. Corpo são, mente sã. A primeira edição foi vencida por um queniano, por mais que só brasileiros pudessem disputá-la, então.

O trajeto já foi mudado dezenas de vezes, até se fixar em 15km no ano de 1992, ano em que um queniano ganhou. O trajeto seguiu mudando, passando por diferentes ruas do centro de São Paulo. A única coisa que se manteve, foi o fato de quenianos seguirem ganhando a disputa. Em suma, a Corrida de São Silvestre é um evento em que as pessoas correm, correm e correm para chegar atrás de pelo menos um queniano. Mesmo que o brasileiro Marilson Esqueciosobrenome tenha sido o primeiro a cruzar a linha de chegada na edição de 2010, o que ficará para a história é que o ganhador foi um queniano de nome estranho.

A Corrida de Reis era um evento pequeno, que paralisava algumas ruas daqui, no dia de Reis. Mas, de alguns anos pra cá ela se transformou no mais emocionante evento esportivo do planeta terra, com os maiores atletas do mundo juntos pelas ruas da maior capital do universo (sorry, Barra do Garças) do centro-oeste. E que, pra variar, tem quenianos ganhando.

São meses e meses com o falatório sobre o evento. A produção da TV que patrocina o evento deve fazer matéria com simplesmente todos os indivíduos que correrão a prova. Velhos, jovens, índios, carpinteiros, jornalistas que estarão lá invadindo as ruas de Cuiabá, por um trajeto chato em que a paisagem durante metade do caminho é capim.

E o pior. Há o reizinho. O reizinho, este maldito. O inglório mascote do evento, um cidadão que se veste com uma coroa de rei e que fica saltitando pra lá e pra cá com uma voz ridícula, chamando as pessoas para correr. É bem provável que o Reizinho seja o pai (ou mãe) do Guaraná Dollynho.

Ainda teremos hoje as matérias sobre as corridas. As imagens das malditas pessoas que resolvem correm 10 km com fantasias ridículas e cartazes. E ainda teremos a premiação em todas as categorias possíveis. Publicitário de 40 anos caolho – ganha uma medalha. Mas logo estaremos livres, sim estaremos. Mesmo que não seja para sempre.

Comentários

Gressana disse…
Quase fui esse ano (sério).
Mas ano que vem estarei lá, movido por um único objetivo: matar o Reizinho.