Apostas

É provável que sua vida tenha começado numa aposta. Você olhou para o espermatozóide ao seu lado e disse: aposto que chego primeiro! Ou é provável que você tenha sido desafiado por um babaquinha qualquer, que se achava o máximo. Você ganhou a aposta e ganhou também a vida (música emotiva, maestro!).

O ser humano adora apostas. Os motivos das apostas mudam com o tempo e a premiação também. Primeiro você aposta com seu colega de sala pra ver quem chega no bebedouro primeiro. Quem ganhar, tem o direito de não ser a mulher do padre. E não ser a mulher do padre é uma glória imensa quando você tem seis anos. Principalmente quando você estuda num colégio de padres, vai que eles resolvem levar o termo a sério?

Depois você começa a apostar dinheiro, por conta do seu time de futebol. E é aí que as coisas mudam. Na antiguidade, antes do dinheiro existir, deveria ser muito mais fácil apostar. Você apostava ali, uma maçã que Moisés ia conseguir abrir o Mar Vermelho. Se você perdesse, era só uma maçã, afinal.

Agora não. É dinheiro. E dinheiro faz o mundo girar. O dinheiro faz os clichês acontecerem. Você irá perder dinheiro alguma vez, porque o seu time, bando de incompetentes, acabou perdendo o jogo. Junto com sua alegria, o dinheiro foi embora. E você percebeu que isso não é legal. E era mais fácil deixar de apostar, do que deixar de ver futebol. Então, você levou uma vida saudável. Pode ter feito algumas apostas na vida, mas elas nunca foram de alto risco e nem envolveram valores exorbitantes.

Mas pode ter acontecido o contrário. Você pode ter gostado da adrenalina, da tensão. De depender dos outros para ganhar ou perder dinheiro. E aí, você pode se tornar um viciado em apostas. Começa com 50 reais num jogo de basquete e logo vira um truco valendo o toba. Em pouco tempo, pode se tornar um “qual a cor do próximo carro valendo a vida”.

As apostas podem ser das mais fáceis, daquelas que dependem apenas de você. Cumprir um objetivo, realizar uma tarefa. Podem depender um pouco da sorte, como nos jogos de azar. Dinheiro por conta de cartas, que podem não vir. Até aquelas apostas que não dependem nem um pouco de você e não exigem nenhum conhecimento sobre o assunto. Oras, você pode apostar num time baseado em sua escalação e no seu desempenho recente. Mas você jamais conseguirá prever a cor da roupa da próxima mulher a atravessar a rua.

Terá um fundo masoquista. No fundo, você gostará de perder dinheiro. Da sensação de ver o seu dinheiro indo para outra pessoa por uma razão totalmente tola. Principalmente se você apostar com Pai Jorginho de Ogum. Ele nunca errou nenhuma de suas apostas e, diz a lenda urbana, começou a construir o seu patrimônio e o seu status de magnata do ramo da exploração sexual, apenas com o dinheiro obtido pelas apostas.

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