Toc, Toc DJ. Toc toc toc on the heaven’s door.

Rob Gordon, personagem interpretado por John Cusack no filme Alta Fidelidade, é o dono de uma loja de discos. Sua vida é meio frustrada e seria ainda mais nos dias de hoje (o filme é de 2000), porque ninguém mais compra discos. Seu maior passatempo é ficar fazendo listas, top 5 sobre músicas, com os seus amigos estranhos que trabalham na loja. Do nada surge a idéia “Top 5 faixas de abertura!”. Puxando pela mente ele começa a citar “Janie Jones do The Clash, disco homônimo de 1977...” e não vou me lembrar todas.

Pode parecer uma figura esquizofrênica do cinema, desses que só existem em filmes. Ledo engano. Na vida real existem vários Rob Gordons espalhados por aí. Pessoas viciadas em fazer listas. Pessoas compulsivas por listagens. Fazer listas é um TOC.

É preciso entender que uma boa listagem tem que ter uma ordem de classificação. Não basta citar seus cinco livros prediletos. É preciso citá-los por preferência. Melhor ainda se você falar o nome do livro, o nome do autor e o ano em que ele foi lançado.

Mas não é apenas isso. Pessoas portadoras desse grave distúrbio não se prendem aos triviais “bandas favoritas, livros favoritos, filmes prediletos”. São os seis melhores livros de autores tchecos. Top 7 músicas com a palavra “até” no nome. Os nove melhores filmes sobre a guerra do Vietnã. Até que a situação fica completamente incontrolável e o cidadão começa a criar listas que só fazem sentido dentro de sua cabeça.

“Top 10 discos, descontando os melhores discos de cada banda”. “Os sete melhores livros que eu tenho em segunda edição”. “Cinco filmes húngaros para se assistir numa tarde chuvosa de outono, enquanto as gotas do orvalho embaçam o vidro da janela”. Em pouco tempo, o fazedor de lista irá se isolar do mundo, para viver apenas nelas.

Irá ao banheiro pensando nas melhores faixas de abertura com trompete. Nos melhores diálogos de Al Pacino nos anos 70. Nos melhores espaguetes à carbonária que já comeu. Os melhores guaraná que já tomou, as poltronas mais confortáveis em que já sentou. Os lugares onde o céu estava mais azul, as dores mais profundas que já sentiu. Sua cabeça estará para sempre perdida em listas mentais. Nessas listas imaginárias que se sobrepõe ao mundo real. Cada ato, cada gesto, cada barulho te trará a cabeça um assunto que merece ser listado. Você será excluído, porque só sabe falar em listas. A solução será o suicídio, não sem antes, é claro, listas as maneiras mais trágicas, mais dolorosas, mais humilhantes de cometer um suicídio.

Se você estiver sofrendo desse problema, está num estágio inicial de sofrimento, ou tem um familiar, amigo, vizinho, colega de trabalho em tal situação, saiba quais são as cinco melhores maneiras de se fazer isso.

1) Evite fazer listas. Encontre uma maneira de interrompê-las ainda no começo

FIM.

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