Pessoas constrangedoras, volume 8

Pessoas que tergiversam


Uma pequena nota de esclarecimento. Esse post não se baseou na candidata Dilma Rousseff. Seu rascunho estava pronto muito tempo antes da eleição e da popularização da palavra. Oras, ela não tem os royaltys dessa palavra!

Você provavelmente teve um colega assim no colégio ou na faculdade. Existem muitas chances que você já tenha atendido uma pessoa assim em seu trabalho. Por “tergiversar” entende-se “mudar do assunto principal, para outro totalmente aleatório e que não faz o menor sentido”. São pessoas especialistas em pegar ganchos forçados. E como toda e qualquer pessoa constrangedora, te deixa sem reação.

1 Tergiversador inocente

- Legal esse livro que você tá lendo.
- Ah, comecei ontem. Vi uma indicação na Bravo.
- Aquela que tem o Chico Buarque na capa?
- Isso. Estou gostando bastante, principalmente da narrativa.

- Falando nisso, viu uma matéria no Jornal ontem?
- Qual?
- Falava sobre isso. Pessoas que tem uma doença rara, não lembro o nome.
- Sei...
- Então, achei bem descrita a matéria.
- É, legal.

2 Tergiversador politizado

- Pois bem, então é isso que Althusser quis dizer sobre os aparelhos ideológicos do Estado.
- Falando nisso, professora, você viu a matéria da Caros Amigos do mês passado?
- Não.
- Falava exatamente disso. De como o governo FHC sucateou o ensino público do Brasil.
- Hmm, legal.
- Também nessa revista, tem uma coluna do José Arbex Jr, excelente, sobre o espetáculo midiático no caso Isabella Nardoni.
- Legal.
- Aliás, eu estou aqui com a revista. Recomendo a leitura, se alguém quiser emprestado.
- Ok. Voltando ao assunto...
- Aliás, aproveito para mostrar essa charge, muito bem bolada, olhem só.
- Bom, bom.

3 Tergiversador compulsivo (aquele que busca anônimos para tergiversar)

- Oi. Me vê seis pãezinhos.
- Seis?
- Isso. Tão quentinhos?
- Saíram faz 10 minutos, senhora.
- Ok. Adoro pão quente.
- ...
- Me lembra minha infância, meu pai era padeiro.
- ...
- Ele sempre trazia pão quente pra casa. Me lembro como se fosse ontem. Sempre tinha pão quente e manteiga fresca.
- Aqui senhora.
- Ele sempre contava como tinha sido o dia do trabalho. Se sentava na cabeceira. Minha mãe de frente pra ele, sempre com um avental.
- Próximo.
- Me lembro que no natal de 1962 eu dei um avental lindo pra minha mãe. Todo bordado. Comprei numa loja na rua XV. Um senhor muito simpático era o atendente. Depois eu me casei com o filho dele.

4 Tergiversador surtado (um completo maluco)

- Oi.
- É... oi.
- Você tava vendo as camisas?
- É, não.
- Ah sim. Eu tenho uma camisa assim, muito boa.
- Ah sim.
- Feito de linho... sabe como é a fabricação do linho?
- Não.
- É um processo bem simples assim. Tão simples quanto andar de bicicleta.
- Hehe.
- Eu mesmo, aprendi com 6 anos e até hoje nunca esqueci. Tenho boa memória. Você se lembra o que comeu no almoço ontem?
- Hmm, não.
- Eu lembro. Lembro o que comi na ceia do Natal do ano passado.
- Legal, he.

Nesse caso você só tem duas opções. A primeira é sair correndo, claro. A segunda, é torcer para que não seja um tergiversador psicótico. Aquele que pergunta.
- Você não está gostando da minha conversa?
- Não, imagina.
- Você não gosta de mim?
- Que é isso.
- O que é que eu fiz pra você não gostar de mim?
- É...
- É o meu cheiro? Minha roupa? Já sei. Você tem outra!
- É... bem.
- Cachorro, maldito!

Para essas pessoas, o mundo gira ao seu redor. Todos assistem o que ela assiste, todos vão gostar do que ela gosta, todos querem conversar com elas. São pessoas constrangedoras. Não perca em breve, a Enciclopédia CH3 de pessoas constrangedoras.

Comentários

Andreza disse…
Meu voto de chatice para o tegiversador politizado. Ai, me deixa comer no McDonalds sem falar do Supersize me. E me de deixa viver sem correntes de e-mail de "dia sem globo?