Os guardas do poder

Foi um choque. No começo de agosto cientistas fizeram uma grave revelação. O triceratops jamais existiu. Pode parecer algo besta, mas não é, caso você assistisse Power Rangers na infância. O triceratops era o Ranger azul, o nerd. Aquele cujo zord parecia um rinoceronte, com seus grandes chifres.

Talvez histérico por saber que um período da sua vida foi uma farsa, menos de um mês depois, David Yost, aquele que interpretava o Ranger Azul, resolveu sair do armário e assumir que era gay. Quem achava que ele era desajeitado com as mulheres por ser nerd, estava enganado. E foi assim. Desespero em muitas pessoas que se sentiram enganadas. Pior do que quando você descobriu que a Ranger Amarela era um homem.

Não sabia disso? Pois é. Na verdade, todas as cenas de ação dos Power Rangers são de seriados japoneses. No Japão, existem trezentas séries diferentes, dessas que envolvem super-heróis fantasiados e coloridos. Os produtores americanos pegam essas cenas e adaptam a história para o cotidiano estadunidense. E eles passam até hoje. Sim, já estamos nas 16ª temporada da série, provavelmente baseadas em 16 séries japonesas diferentes.

E sim, esqueci de falar da Amarela. No seriado japonês ela era um homem. Provavelmente por isso é que foi escolhida uma chinesa para interpretá-la.

Toda essa polêmica azul nos leva a uma reflexão. Sobre nossa infância e os Power Rangers. Como eles eram ruins. Sim. Assistir a um episódio hoje, com o discernimento que a vida adulta nos dá, é constrangedor. Pensamos: como é que nós conseguíamos ver isso? Como é que nós achávamos bom? Brincávamos disso, comprávamos produtos, ficávamos ansiosos pelo episódio do dia seguinte.

A história era sempre a mesma. Na faculdade em que eles estudavam, o gordo e o idiota tentavam fazer alguma sacanagem com eles. Eles estavam se divertindo no American Way of Life. A vilã Rita resolvia aprontar alguma sacanagem. Com sua risada maligna ela bolava um plano.

Eram então enviados os seres de lama. E eles proporcionavam os melhores momentos. Por alguns motivos:
- Eles não andavam para frente. Eles sempre davam passos laterais durante sua caminhada.
- Eles falavam algo como “agluglgugluggulguguglgug”.
- A cada golpe que eles recebiam, eles soltavam faísca. Lama não solta faísca! Eles não eram de metal! Ou eles eram seres superiores que produziam energia?
- Eles não tinham a menor estratégia de luta. Mesmo estando em dezenas, centenas, eles esperavam que outro fosse derrubado para então atacar. Seria muito mais lógico produzir um ataque em massa.

Era a hora de morfar. Sim, você teve um relógio grande que você achava ser um morfador. Os Power Rangers se moviam na velocidade da luz e logo apareciam dando cambalhotas, em pose de combate.

Claro, os seres de lama eram sempre derrotados. E então, Rita, no planeta distante em que ela habitava, fabricava outro monstro em uma máquina moderna e o mandado para a terra. A luta começava difícil, mas logo os nossos heróis se aproximavam da vitória. Conquistada com muito sofrimento, afinal, eles rolavam no chão. E então, vinha a surpresa. O monstrengo aumentava assustadoramente de tamanho.

Isso acontecia todo dia! E eles sempre diziam “ó, é preciso usar o megazord” como se fosse uma alteração no cotidiano, para a alegria de Sandy & Júnior. Então, eles formavam o Megazord. E como num passe de mágica, o triceratops, o mamute e sei lá que o outro bicho, apareciam do nada. É uma grande dúvida saber em que lugar é que eles ficavam guardados, tão disfarçadamente, que poderiam aparecer a qualquer momento. Nem o Bruno conseguiria esconder tão bem.

Todas as lutas térreas aconteciam em grandes gramados. Mas quando o Megazord era formado, eles logo estavam no meio de um monte de prédios. Que na verdade, eram um isopor vagabundamente pintado de cinza. E o pior, durante o combate mortal, vários prédios eram destruídos! E as pessoas que moravam lá? A ação era tão rápida que não dava tempo de evacuar. Era um prejuízo muito grande, tantos prédios destruídos todos os dias, por conta de uma briga entre um monte de lata e um monte de lama.

Enfim, o Megazord tirava sua espada, aniquilava o toletão e fim. Rita assistia tudo com sua luneta e culpava seus ajudantes retardados. Os Power Rangers voltavam para a faculdade, onde o Gordo e o Idiota aprontavam altas confusões. E eles nunca perderam uma prova pra salvar o mundo.

Comentários

Adérito Schneider disse…
"Nem o Bruno conseguiria esconder tão bem". Hahahahaha!

Pois é, como a gente conseguia gostar dessa merda? Ainda bem que eu era o Ranger Vermelho. Apesar de que logo veio o Verde e ferrou meus esquemas com a Rosa e ainda roubou a liderança. Nunca o considerei um verdadeiro Ranger. Ele não era dos originais...
Gressana disse…
Todo mundo queria ser o ranger verde nas brincadeiras porque o módulo dele SOZINHO era tão ou mais foda quanto o Megazord, que era 5 módulos juntos.
Zoi de Tandera disse…
Eu simplesmente falava "sou todos do bem tirando as meninas ariariairairiariariarii" e aí eu monopolizava a brincadeira de Paulo Réngér (sic).