Cultura da Moda

Já até imagino. As pessoas pesquisando sobre cultura da moda no Google e caindo aqui no CH3. E se decepcionado. Porque elas queriam ler sobre a história da moda e suas relações culturais. Logo elas verão que o post não é sobre isso. Então, elas vão clicar ali no “não faz sentido” e os mais audaciosos ainda vão comentar que isto aqui é inútil, que nós somos ridículos falidos e que a avó dele escreveria algo melhor. Tudo isso porque? Porque não há uma matéria sobre “como utilizar o Google” nos colégios.

Esse post não é sobre técnicas seculares de cortes de tecidos chineses. Sobre o que as cores trajadas significam nos mais diversos lugares ao redor do mundo. Como se vestir numa festa xintoísta. Cores elegantes na Nova Zelândia. Reitero que não é sobre isso. Apesar de já ter gasto dois parágrafos sobre isso, não é disto que esse texto trata.

Falemos de Dostoievski. Escritor russo que viveu uns 200 anos atrás. Um escritor como tantos outros por aí. Escrevia palavras e lançava livros com elas, em russo. Ninguém nunca tinha ouvido falar dele, mas de um tempo pra cá, ele virou ídolo nacional. Livros de Dostoievski eram vendidos como água nas livrarias. Irmãos Karamazov foi parar em vários Orkuts Brasil afora. A Dostoievskimania. Ele virou a cultura da moda.

Difícil entender como isso acontece. Mas durante uma época, que pode durar meses, anos, décadas, um certo artista que sempre foi um mero desconhecido, passa a ocupar um papel de destaque no cenário cultural nacional. Dostoievski trouxe com ele, muitos outros autores russos, como Tolstoi (cuja grafia do nome é um pequeno mistério da humanidade). Já aconteceu com Garcia Márquez, José Saramago, Milan Kundera. E quem sabe o próximo? Qualquer um pode assumir o posto de escritor da moda.

Isso acontece no meio acadêmico também. No começo da faculdade, tudo era Focault. Citado por professores, ator principal das piadas acadêmicas. Parecia que todos os alunos estavam lá motivados por Focault. Mas logo veio a moda de Deleuze e seu rizoma. Existiu a era de Stuart Hall.

Na música ocorre um fenômeno similar. Ciclicamente, um músico que já teve dias de sucesso num passado remoto, passa a ser admirado pelas novas gerações. Caetano Veloso lançou um disco com versões acústicas de várias canções contemporâneas. Uma mistura excêntrica, que foi taxada de porcaria por todo mundo. Mas Caetano chegou até os jovens cantando Come As You Are. E essa nova geração passou a escutar seu trabalho, seus novos lançamentos, foram aos seus shows, agora lotados de pessoas de camisa xadrez e óculos de aro grosso.

De repente vem, sabe-se lá da onde, a nova diretriz: Erasmo Carlos é legal! E então todo mundo começa a escutar o Tremendão e achar graça nas suas músicas. A gostar das canções que nem os seus pais agüentam mais ouvir. Nesses tempos recentes, até Reginaldo Rossi – o atual rei do brega – virou cult. Imaginamos daqui a 30 anos, os jovens escutando Banda Calypso e pirando no solo de Cavalo Manco.

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