Amostra Grátis

Quando eu era criança, sempre que ia ao Supermercado, parar na maquininha que servia xarope de Guaraná era uma obrigação. Eu sempre ia. Sempre. Dependendo do dia, eu pedia dois copos e, como eu era criança, a mulher aceitava. Era uma decepção muito grande nos dias em que a maquininha não estava funcionando. Era como se não tivesse valido a pena ter ido no supermercado.

No meu mundo ideal, seria possível sobreviver alguns meses (ou pelo menos algumas semanas), apenas com as amostras grátis oferecidas no supermercado. Começaria com aquele cafezinho, cortesia do estabelecimento para/com os clientes, seguiria com umas torradinhas ali, uma passada para beliscar uns queijinhos com salame, o tradicional Guaraná. Um desses novos sucos em pó e quem sabe, com sorte, um pedaço de hambúrguer e – glória – uma bola de sorvete, novidade no mercado.

Existiram prósperos tempos em que isso foi possível. Você ia ao supermercado e poderia se considerar frustrado, caso não encontrasse pelo menos três opções para degustação. Você podia economizar o dinheiro do jantar, facilmente. Mas, não sei se foi o Governo Lula, a queda das torres gêmeas, a crise do sistema imobiliário norte-americano, a moda emo, mas o fato é que esses dias ficaram para trás.

Nós, amostristas, andamos desolados. Não conseguimos mais encontrar essa fartura de outrora. Aqueles que tinham como lema de vida o ditado “de graça, até injeção na testa” – com exceção a injeção e a testa – estão perdidos. Quando raramente há uma amostragem no supermercado, é de algo tão bizarro – sorvete de jiló, suco de jenipapo – que você acaba desistindo. Não há a perspectiva de ser recompensado com uma amostra que realmente valha à pena.

E tem mais, é numa quantidade tão pequena, que mal dá pra sentir o gosto. E sem direito a repetição. Mesmo uma criança de quatro anos não conseguiria convencer a tia do suco a dar mais um dedinho do refresco. A única amostra que rola solta hoje em dia? Revista velha. E você ainda vai levar uma assinatura de uma revista ruim junto.

Mas, como tudo na pós-modernidade, este processo de obter coisas gratuitamente, está se virtualizando. Sim, nossas relações pessoais, nossos sentimentos. Afinal, o que é o Virtual? Perguntaria e responderia Pierre Lévy ao longo de centenas de páginas tediosas, as quais eu não conseguiria resumir aqui.

As amostras grátis saíram dos supermercados e foram parar na internet. Sim, você pode se cadastrar em sites como esse e esse outro. E então, receberá novidades sobre todas as amostras grátis que você pode solicitar para empresas ao redor do mundo. Adesivos, CDs de meditação, guias turísticos, pulseiras, sorvetes e, quem sabe, injeções na testa.

Nosso amigo, o pedreiro Marcão fez o teste e cadastrou nos sites na lan-house perto da casa dele. Ele descreve esse período da sua vida como maravilhoso e responsável por ele finalmente ter conseguido se sobressair à linha da pobreza.

Nota do Editor: Esse tema nos apareceu via Twitter, por sugestão de @dias_carla, que atendeu a um pedido de sugestões de pauta do blog. Não há aí nenhuma tentativa de merchandising e tampouco o blog recebeu dinheiro para citar estes sites, não insistam seus malditos comunistas. Apenas o tema “Amostras Grátis” e sua migração do campo real para o virtual, é um assunto digno da linha do blog.

Comentários

Adérito Schneider disse…
Pelo menos vivemos a era do DOWNLOAD grátis, que é muito mais legal. E você nem precisa sair de casa.
Andreza disse…
Eu também ADORO amostra grátis. Mesmo. Desde criança a agora e para sempre. Pra um empresa me ganhar é só me oferecer uma comidinha gratuita ahahah E teve um tempo em que me cadastrei nesses sites e recebi amostras de sabão para máquina de lavar louças, a qual não tenho em minha casa. E outras coisas mais úteis. É verdade, está ficando cada dia mais difícil nos mercados.Triste.
Eduardo disse…
Dilma lançara o bolsa amostra.