Grandes dúvidas que não têm explicação (14)

O que fazer com as mãos?

O último debate envolvendo os presidenciáveis Dilma Rousseff e José Serra, transmitido ontem pela TV Globo, trouxe a tona um dos maiores problemas enfrentados pelo povo brasileiro, quiçá pelos povos da Terra. Não, não falo do saneamento básico, da violência, da educação, da saúde, da habitação, da segurança, do aborto ou da transposição do Rio São Francisco. A questão é: o que fazer com as mãos.

Sim, as mãos. Esta parte do teu corpo, disposta na extremidade dos braços, que contém dedos que contém unhas. Também contém um polegar opositor – você deve saber, isso te diferencia do resto dos mamíferos.

Cabem as mãos, realizar tarefas básicas do cotidiano. Dar fim as suas necessidades criativas. Manusear objetos. Escrever. Se alguém te diz “pode pegar a caneta” é com as mãos que você vai fazer. Sim, você não vai tentar pegar com os pés, com a boca ou com as orelhas. Sem as mãos você teria muita dificuldade em comer. Sem as mãos, você teria dificuldade em viver (calma Cão Leproso) e não é a toa, que em tempos primitivos, uma das punições mais graves era justamente cortar as mãos do infrator.

A questão é justamente essa. Existem tantos atos que você pode realizar com suas mãos, que, no momento em que você não deve fazer nada com elas, você fica perdido. As mãos simplesmente não foram feitas para ficarem paradas. Ou, até podem, mas depende da situação.

Você pode colocar a mão na cabeça, apoiar no queixo, se apoiar em algum lugar. Mas isso não acontece quando você está num debate pelo mais alto posto da nação, transmitido pela maior rede de televisão do país. Você não pode coçar qualquer parte do corpo. Quando você está num debate tradicional, com uma bancada, você pode rabiscar uma folha de papel para passar o tempo, ler um livro do Garcia Marquez... enfim. Agora, em um debate como o de ontem, disputado em uma espécie de ringue moderno, sem bancadas. Os dois, em pé, circulando de um lado para o outro. Quando você está falando, tudo bem, você usa as mãos para gesticular. E agora, o que fazer quando você é o ouvinte?

Colocar as mãos cruzadas em frente ao corpo demonstra medo, como se você quisesse se esconder. Braços cruzados é impaciência. Mão no bolso é insegurança. Mão na cintura é cansaço. Coceira é falta de banho. A única solução é ficar com as mãos para trás, numa pose reflexiva, mas claramente nervosa. Pior ainda, era quando um candidato ficava falando com o público e a câmera pegava o oponente lá no fundo, pensando “o que é que eu faço?”. Sem uma caneta, sem um livro, sem um mp3 player.

E então, o que fazer com as mãos? Eu não sei. Creio que a humanidade jamais estará preparada para este momento.

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