Masoquismo Democrático

Responda rapidamente: você prefere morrer ou ser mesário? Isso mesmo. A morte na fogueira ou trabalhar como mesário nas próximas eleições? Sabemos que, mesmo com dificuldade, você provavelmente escolheria o trabalho de mesário, porque, afinal, não podemos ser tão drásticos assim. Mas você provavelmente não fez essa opção com um sorriso no rosto. É provável que você tenha relido as opções pra ver se não tinha um “viagem as Bahamas”. Trabalhar como mesário não é uma redenção. É apenas um “fazer o que?”. É claro, desde que você não seja masoquista.

Sim. Se você for destes que gosta de algemas, cera quente e roupas de couro, é provável que você goste da oportunidade de ser um mesário. Claro, não haverá chicotes e velas derretidas, mas você passará o dia todo sentado, apertando botões, destacando comprovantes e escutando um barulho irritante a cada minuto. Mesmo se você sentisse algum prazer em ficar sentado, destacando papéis, seria impossível gostar daquele barulho da urna eletrônica.

Temos vários relatos de pessoas que trabalharam como mesários em zonas superlotadas e tem pesadelos até hoje com o barulhinho de voto confirmado. Tiveram que fazer terapia durante anos.

Para piorar, você será o primeiro chegar e o último a sair. E não vai ganhar nada. Ou melhor, ganha um pão com queijo e uma sensacional folga de dois dias no seu trabalho. Era mais fácil, e mais prazeroso ter pego uma virose qualquer.

Receber uma carta dizendo que você trabalhará como mesário, é quase como receber uma sentença postal de morte. Um ser humano normal, arrumaria qualquer justificativa¹ possível para não ser mesário. Mas, pasmem. Existem pessoas que se declaram voluntárias para exercer tal função.

Essas pessoas não devem realizar exames para atestar a sua sanidade mental, porque é claro que o resultado seria negativo. Não existem motivos para que alguém queira fazer isso. Acompanhar o processo democrático? Que seja. Um processo incompleto que não tem a dignidade que o CH3 tem em avisar que é sujo e tem mentiras.

Talvez seja um vício. Existem reuniões de Mesários Anônimos em que eles contam suas experiências. “Comecei como mesário na eleição de líder de turma. Depois de presidente de bairro. Até chegar as eleições nacionais. Hoje eu perdi minha família, amigos. Trabalho como mesário até em eleições de rainha do rodeio”. Talvez seja um distúrbio genético. Uma falha no gene H9AJ0.

Mas o CH3 aposta no masoquismo. Ser mesário é uma das poucas oportunidades que esses excluídos da sociedade tem de curtir seu prazer em público. A outra oportunidade é ir pagar contas no DETRAM todo dia.

¹No mundo das eleições, não existem desculpas. Apenas justificativas.

Comentários