A arte de falar sério sobre coisas tolas

Dois amigos se encontram

- Rapaz, pois eu fui tomar uma Coca Cola ontem no bar do Zé e a garrafa tinha ficado mais cara. Passou de 1,50 pra 1,70.
- Isto é grave heim. Mais uma prova deste cenário inflacionário alavancado pelo qual passamos.
- De fato, o Zé está tentando explorar um nicho estratégico saturado. Mas desse jeito, ele foi se transformar apenas em um Case Macro-oligopolista.
- Isso me irrita muito. O que ele quer? Um superávit contábil extraordinário?
- Não sei. Para mim ele é um burocrata auto-organizacional em busca de uma variância estimativa relativa.
- Sabe, para mim este é um dado cumulativo mensurável. Não sei no que esses 20 centavos irão influir. Talvez ele vá tentar investir em publicidade, mas com esse dinheiro ele não financia nem um spot promocional erótico.
- Até porque, ele ocupa uma faixa rotativa segmentada. Ele teria que buscar um modelo assimétrico corporativo para, quem sabe, começar uma atividade de suporte protocolar junto ao seu público.
- Mas sabe que fora isso, ele colocou uns quadros novos na parede, feitos pela mulher dele.
- Ah, eu vi. Ela busca uma estética introspectiva imagética mas não consegue nenhuma empatia geométrica onírica com o lugar. E ela acha que está com uma superprodução independente antropomórfica.
- Mas fala isso? Ela vai começar com aquele repertório tragicômico brechtiano. Acho isso de uma conotação tonal fática.
- Não consigo formular nenhuma hipótese estóica patrística para isso.
- Ah, para mim é um problema de formação disciplinar catequética. Tenho uma fonte impessoal confiável que confirmaria essa minha observação.
- Hahaha, mas ele é feliz naquele grupo bio-alternativo. Cheio de vírus orgânico-hibrídos.
- Acho que o Zé deve ter alguma anomalia androgênica autossômica.
- Pois é. Mas, será que chove?
- Ouvi falar que tem uma massa atmosférica instável chegando. Pode formar uma perturbação úmida semi-estacionária, e aí já viu, né?
- É, melhor se preparar. Prevejo um pulsar massivo em colapso.
- Leu isso no horóscopo? Só falta dizer que passa por um período cósmico harmonioso. Que gera um transe mental cabalístico.
- Ah, fala pra piranha da sua mulher me fazer uma masturbação semifrontal lúdica.
- Já apelou? Isso é típico dessa sua categoria feudal aculturada. Você acha que faz parte de uma ordem pensante manifesta mas não passa de coalizão tecnocrática maleável.
- Só fala isso porque você é de uma linha histórica revisionista. Vive nesse seu estado autoritário policialesco com sua força reformista intransigente.
- Pois é você que está nesta alienação auto dominadora. Se achando o lábaro estrelado do novo mundo.
- Fala isso porque é evangélico. Essa sua pregação ascética terrena em nada tem a acrescentar objetivo participativo racional que tentamos criar.
- Você não tem capacidade sistêmica multimodal para me criticar. Filho da puta.
- Perder a cabeça é a sua crença mágica sazonal. É a sua projeção hedonista polimorfa. É o seu surto anal exibicionista. É a sua antítese conflitante irreal.

Foi então que um dos dois descobriu que o outro tinha uma arma.

* Homenagem do CH3 ao Manual do Cara-de-Pau, livro lançado 20 anos atrás por Carlos Queiroz Telles.

Comentários

Metralha disse…
Putz você escreve bem!

Mas daonde vem essa idéias,

kkkkkk

FLw
Gressana disse…
O melhor texto do mundo.