Gritos de empolgação

Lá está à roda de pagode. Daquelas profissionais, com microfones e instrumentos amplificados. A cantora principal, com um sorriso maroto no rosto, anuncia a próxima música e diz que ela é dedicada ao Carlão. Alguns gritos de “ahh” podem ser escutados isoladamente (ahh moleque, em alguns casos). O acorde inicial já produz algum frisson. Com um sorriso ainda mais maroto ela começa “Você é um negão de tirar o chapéu, não posso dar mole senão você créu”. Pronto, o ambiente é tomado por gritos de empolgação.

Gritar não é algo natural do ser humano. Você fica com dor na garganta e outras pessoas ficam com dor no ouvido. Um grito chama a atenção. Dá sustos. Gritos jamais estarão envolvidos em uma situação perfeitamente normal.

Os gritos de empolgação são de dois tipos: solitários ou coletivos.

Os Gritos solitários são de fácil entendimento. O cara conseguiu subir o Everest – começa a gritar. Passou no vestibular – “uhhhhuuuu”. A voz dentro da sua cabeça mandou – “ahhhhhh”. Você será olhado apenas como um maluco e você pode realmente ser um.

Mas, quando o ato é dado em grupo, tal qual um orgia de gritos, é que temos um fenômeno realmente interessante. Nas próprias orgias. Seriam, os gritos de prazer, sussurros de amor, e outras coisas que nos lembram músicas do Wando.

O exemplo do começo do texto trata de gritos de empolgação musical. Acontecem sempre que uma música tocada ao vivo chega ao seu ápice. No caso do pagode, é no momento mais maroto da letra. Na música sertaneja, é na parte mais corna do refrão (não consigo me lembrar sequer, qual era o nome daquela mulher, a flor da noite da boate azul). No rock costuma a ser um solo de guitarra. E até na música eletrônica este momento existe, mas eu não sei explicar. Para nós, simples mortais, a música continua igual. Mas para o grupo de especialistas é um momento sublime. Do nada, todos levantam os braços e começam a gritar.

Existem os gritos de provocação. Sua tradição surgiu do repente. Sabe como é, aquele evento em que dois nordestinos tocando instrumentos musicais se reúnem em uma praça pra ver quem consegue xingar mais a mãe do outro.


“Dizem que Severino é cabra macho
Mas eu sei que não é
Sua mulher, todo mundo sabe
Vai pra cama com José”

São os gritos de “ahhhh, não deixava!”. Esse comportamento é muito presente nos tempos de colégio. É uma motivação e tanto. Se o provocado não reagir, ele logo receberá outros gritos como “ahhhhh, vai deixar? Vai deixar” ou “bundô, bundô” até chegar ao tradicional coro de “bicha, bicha, bicha”.

Bem próximos a esse grupo, existem os gritos de humilhação. São muito parecidos, só que são mais gratuitos. Tendem a provocar uma reação, mas ela está mais próxima a um suicídio do que um homicídio. Sua maior incidência ocorre em Primavera do Leste, também conhecida como a capital nacional do Bullying.

Mas enfim, o que faz pessoas gritarem coletivamente? Não sei. Imagino que a resposta seja a mesma do porque as pessoas gritam quando a luz acaba. Psicólogos de plantão podem ajudar.

COMENTE EM CAPS LOCK.

Comentários