A arte de guiar turistas

Se eu pudesse escolher uma única profissão para exercer, não o tempo todo, mas apenas como hobbie, essa profissão seria a de guia turístico. Poder ensinar coisas erradas para um grupo de pessoas que achará todas essas mentiras sensacionais. Escutar “Amazing!” por todos os lados.

Uma das coisas interessantes é criar lendas sobre o local. Por exemplo, aqui no Pantanal. Eu pagaria um trocado pra uns caboclos e pediria para que eles fizessem uma dança estranha. Falaria para os turistas que aquela é uma dança tradicional da região, os moradores a fazem para homenagear a lua que controla os animais da região.

Inventaria outros ritos. Diria que antes de entrar em uma casa os turistas deviam se abaixar e levantar. Era uma forma de demonstrar respeito. Isso é muito mais interessante do que o já batido hábito de ensinar português errado. Explicar que “May I have some water” se diz “Adoro uma benga” ou que para pedir uma fotografia se deve dizer “por favor, puxe minhas tetas”.

O animal mais misterioso e exótico do pantanal é a onça pintada. Só que dificilmente os turistas encontrarão uma onça. Ou sequer sinais das onças. Então a estratégia é mostrar possíveis rastros. No meio daquele monte de bosta de vaca e cavalo diga “look, isso é merda de onça. Elas estiveram aqui na última noite”. Diga que as pegadas de capivara são na verdade, pegadas de onça.

Fora isso, você pode mentir sobre a biologia, topologia, geografia do local. Ao passar por um rebanho de bois diga “Estão vendo, estes são os bois pantaneiros. Animais extremamente selvagens e perigosos”. Ao passar por um buraco de água, daqueles que os fazendeiros fazem pros animais beberem água diga “é um buraco de meteoro”. Explique que um meteoro caiu na região milhares de anos atrás, e que ele foi o responsável pela planície. Ao encontrar conchas de caramujos quebradas, diga que são conchas do mar. O pantanal já foi mar.

Você também pode criar lendas assustadoras. Ao encontrar uma ossada, seja de boi, seja de capivara ou até mesmo de cachorro diga “é uma ossada humana”. E que provavelmente ele foi devorado por um jacaré. Ao encontrar uma garrafa pet vazia (que na verdade é lixo) se desespere e grite “Carlos!”. Simule que você está procurando algum rastro do Carlos. Se desespere e diga que “não é possível. Os jacarés levaram o Carlos”.

Você pode incrementar a lenda com onças também. Ou até mesmo com bois pantaneiros. Diga para que os turistas tranquem suas portas de noite, pra evitar qualquer problema. Grave barulhos assustadores e coloque para tocar perto dos quartos. Tente arrombar as portas. E se quiser, mate um turista por noite para aumentar a tensão. Sempre dê um jeito de que o último da fila desapareça durante as caminhadas.

É ou não é um trabalho divertido?

Comentários