A falta de luz

Quando eu era criança não dava outra. Chovia aqui, acabava a luz. Uma chuva em Várzea Grande, um vento pouco mais forte no Paraguai ou um espirro de camelo no Marrocos eram motivos para que a luz acabasse. Quantos jogos de futebol eu não vi direito porque a luz acabou. Quantas vezes eu não fiz a tarefa a luz de velas porque não tinha luz elétrica.

Foi então que a Cemat foi privatizada, fizeram a represa de Manso e, coincidência ou não, parou de faltar luz. Foram anos maravilhosos. Anos em que televisões, computadores, ventiladores e geladeiras funcionaram incessantemente. Foram bons tempos. Ah, como foram. Anos sem medo de que o chuveiro queimasse, que a televisão estragasse ou que você perdesse um arquivo no computador.

Mas, esse mundo perfeito acabou. Lembro-me que em 2008 qualquer chuva era motivo para a queda de uma fase de energia. Me lembro de assistir o debate para prefeito, no qual Wilson Santos disse que transformou Cuiabá na cidade mais bem iluminada do país, no exato momento em que a luz acabou.

E recentemente é o inferno. Acabou a luz umas dez vezes esse ano. Em um dia, acabou por três vezes. Eu estava no computador, escrevendo um texto para o CH3. A luz acabou. Não tinha salvo o texto. A luz voltou, liguei o computador e voltei a reescrever. A luz acabou novamente. Veio aquele medo danado de que o computador não resistisse. A luz voltou e pela terceira vez voltei a tentar escrever o texto. A luz acabou novamente. Desisti e fui dormir. Hoje só tenho duas palavras escritas em um caderno “Nomes músicas” – e não consigo me lembrar o que é que eu queria escrever sobre isso.

Aliás, o problema é ir dormir. Cuiabá é uma cidade na qual é impossível viver sem energia elétrica. Não ter ao menos um ventilador em Cuiabá é tortura. É comparável a ter um alfinete enfiado debaixo da unha. Receber eletrochoques no ânus. Tá, talvez não seja tão terrível assim. Mas é um problema danado.

Esses dias a luz acabou aqui em casa às 7h da manhã. E voltou só 1h da tarde. Foram 6 horas sem energia elétrica. Seis horas derretendo no calor infernal de Cuiabá. Sendo devorado pelas mais variadas espécies de mosquitos que aproveitam o clima úmido dessa época.

E sabe qual foi a justificativa da Cemat para isso? Estava trocando um poste. Demoraram seis horas trocando um poste! Acho que se eu, o Vinícius e o Tackleberry, que nunca trocamos um poste na rua, se nós fossemos trocar um poste nós demoraríamos seis horas. Mas, eles?

Hoje a luz acabou novamente. Por duas horas, porque eles estavam trocando um relógio. E o pior, é que a conta de luz vem alta sempre. Não existem mais sombras de animais na parede, ou... seja lá o que for. A solução talvez seja pegar em armas contra a Cemat. Sim, o CH3 anda numa fase bélica.

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Pois bem, o CH3 lamenta aqui a morte do cartunista Glauco. Provavelmente, jamais teremos outro personagem de pau duro em um jornal.

Comentários

Guilherme disse…
Ironia da vida: terminei os afazeres com esse post por volta de 2:40, fui ao banheiro, escutei trovões, voltei, desliguei o computador e a internet e as 3h da tarde a luz acabou. Só voltou as 8h da manhã de hoje. 17 horas depois.