A moda é: ser exótico

Dois amigos vão juntos a uma sorveteria. Sentam-se no balcão e olham as opções de sabor. Os dois fazem suas escolhas.
- Me vê uma bola de chocolate.
- Como?
- Uma bola de chocolate.
- Chocolate???
- Sim, ué. Chocolate.
- Que horrível. Como você tem coragem de pedir sorvete de chocolate? Chocolate, tsc. Me vê duas. Uma de tamarindo e outra de fruta do conde.

O amigo que pediu o sorvete de chocolate será estigmatizado nos mais diversos segmentos da sociedade pelo fato de ele ter pedido sorvete de chocolate. Sendo que ele podia ter pedido sorvete de papaia, ciriguela, bocaiúva, nêspera, urucum, batata doce, amora, poncã, açaí, graviola, cupuaçu, umbu, cajá-manga, saputi, tâmara, tamarindo, pitonga ou bacuri. Já o que pediu o sorvete de fruta do conde poderá olhar por cima das outras pessoas.

Tudo isso porque? Porque a moda é ser exótico. Não sei se a culpa é da Angelina Jolie, mas o fato é que ao ir comprar alguma coisa, seja comida ou seja lá o que for, pessoas legais de verdade compram a coisa mais exótica disponível. Sorvete de abacate com goiaba, suco de morango com mortadela e menta. Filé de bagre com molho de jabuticaba e pimenta. Costela de bode refogada com leite em pó e guaraná ralado.

E o que é pior? É que essas coisas exóticas ou são ruins ou lembram incrivelmente alguma outra coisa normal. “Hmm, sorvete de tamarindo. Lembra Limão”. Oras, se lembra limão era mais fácil tomar um sorvete de limão. Mas o sorvete de limão... é ali, tão simples e branco. Muito melhor tomar um de tamarindo e parecer que você é descolado para não ficar deslocado.

Existe ainda o caso do frango. Já foram catalogados aproximadamente 392 carnes de animais que se parecem com frango. Avestruz? Parece frango. Jacaré? Parece frango. Cobra? Parece frango. Capivara? Também. Rinoceronte? Adivinha. O frango. O frango é o maior formador de opiniões gustativas da fauna mundial.

Nesse caso, melhor ainda é comer filé de rinoceronte com cobertura de tamarindo. Peito de rã com filé de bacuri. Sorvete de pequi com cobertura de filé de maracujá recheado com cobertura de abacate com gosto de frango.

E é claro, que fazendo tudo isso escutando um músico africano, filho de dinamarqueses que toca jazz com influência de ritmos caribenhos utilizando-se apenas de utensílios medievais. E se você perguntar para quem gosta o porque, ele responderá: “ora, mas é lógico. O cara é um moçambicano filho de um islandês com uma panamenha! E foi criado em Massachussets! E começou a carreira tocando caixa de fósforo numa esquina em Dusseldorf! E ele fazia tudo isso para um velho comerciante italiano de bigode que adorava empadas de rã com molho de frutas silvestres. E sabe o que ele ganhava? Apenas comida. Sorvete de salmão com cobertura de chocolate sabor abobora. Até que ele foi para a Macedônia trabalhar como alferes de uma empresa de jóias que era administrada por um tailandês que um dia o disse: vou lhe contar o segredo do sucesso. Ele é


PS. As tags desse post dão uma conotação de blog de mulherzinha.

Comentários

Adérito Schneider disse…
Hahaha! Isso aí, a moda é ser "alterna".
Cara, eu experimentei picolé de pequi e descobri que não sou tão goiano assim.
Só espero que um dia o napolitano venha sem o creme...
Obs: Ótima observação sobre o frango.