A ética das pequenas coisas

O mundo é cheio de convenções acertadas e estabelecidas em papeis timbrados e lavrados em cartórios. O comportamento humano também. Somos criados de acordo com certo guia de comportamentos, uma ética que nos impede e nos desencoraja de sair pelado nas ruas. De esfregar comida pelo corpo, ou de perguntar a uma pessoa qual é a idade dela.

Mas existe a ética comportamental das pequenas coisas. Coisas tão insignificantes no nosso cotidiano, que nem pensamos ou nem sabemos o porquê nos comportamos dessa maneira.

Sentar em bancos de shoppings ou de outros lugares públicos (por mais que sentar em banco de praça seja coisa de cidade pequena. Numa cidade grande as praças já estarão ocupadas por fezes pombais, hippies vendedores de pulseiras e louquinhos de bairro que cheiram cola) por exemplo.

Você não senta em qualquer banco no shopping, quando você está a esperar alguém fazendo compras. Claro, você dá preferência a algum banco perto do lugar onde essa pessoa esteja. Mas você tem que observar uma série de fatores. Ou melhor, um fator em especial. Se este banco está ocupado ou não.

Se uma pessoa estiver sentada no banco você não irá sentar nele. Não importa. Não falamos nem em sentar ao lado dessa pessoa – o que seria permitido pela lei, mas alguém poderia considerar um atentado ao pudor – e sim de se sentar do lado oposto da pessoa. É provável que a outra pessoa saísse do banco te olhando com um ar desagradável. Ou então os dois permaneceriam calados, tentando ao máximo não invadir a privacidade do outro.

Se você se sentar em um banco onde outras duas pessoas estão sentadas, isso soará como se você fosse um bisbilhoteiro. Se você chegar com outra pessoa em um banco onde uma pessoa está, é um claro sinal de que essa pessoa está sendo expulsa. Se duas pessoas chegarem num banco onde duas pessoas estão sentadas, não há solução. É briga.

Outra situação, presente apenas na vida dos homens (assim eu imagino) é a ida ao banheiro e a decisão por qual mictório usar. Não é fácil. Nos poucos segundos entre a caminhada da porta ao mictório, é preciso calcular a posição mais distante de qualquer outro homem. E também imaginar pelo estereótipo quais são aqueles do qual é preciso manter distância, para evitar constrangimentos.

No entanto, existem aquelas situações para as quais nenhum ser humano está preparado. Aquelas para as quais não há uma convenção ou uma solução rápida.

Falo é claro, do momento em que se dá de cara com outra pessoa no meio do caminho. Vocês param, você faz que vai pra direita e a pessoa também. Ambos então ao mesmo tempo resolvem ir para a esquerda. E poderiam ficar nessa dança durante o resto da eternidade. Talvez fosse o momento de ter uma decisão madura e conversar “é o seguinte, eu vou por esse lado e você vai para o outro e a gente resolve o problema”. Mas é difícil. Essa é uma situação na qual o ser humano encara os seus mais profundos medos.

Por isso, o CH3 chama a atenção. É preciso que as autoridades dos países e a ONU tomem uma atitudes com relação a essa situação que há séculos aflige a humanidade. É preciso que nossas crianças sejam ensinadas desde a mais tenra infância a saber o que fazer nesse momento. Sugerimos algo simples como “nessa hora, cada um tem que sair para a sua direita”. Chega de sofrimento.

Comentários

Anônimo disse…
HAHAHA, relevante...