Frases históricas

Foi no dia 7 de setembro de 1822. As margens plácidas do Rio Ipiranga, Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, que mais tarde seria conhecido como Dom Pedro I, soltou seu brado retumbante “Independência ou morte”. E por conta desse grito que hoje estamos aí, em casa, tranqüilos aproveitando o feriado.

Notem, tudo só aconteceu pela frase dita por Dom Pedro I. É capaz de que ele tenha se reunido com seus assessores durante horas e horas para pensar na melhor frase para o momento. Imaginem se o momento tivesse ficado registrado como “Queremos a independência!” ou “A independência tarda, mas não falha!”. Provável que hoje você estivesse trabalhando, e prestando seus serviços para a coroa portuguesa.

Uma frase certa no momento decisivo é tudo o que os grandes líderes precisam. Todos sabem, a segunda guerra mundial só acabou porque Wiston Churchill disse aos seus soldados “nada temos a oferecer, além de nosso sangue, suor e lágrimas”. Se ele tivesse dito “Vamos ganhar a guerra pessoal” ou “Batalhar é preciso, viver nem tanto”, não poderíamos descartar a hipótese de Hitler no trono até hoje, mesmo que ele já fosse a essa altura um homem centenário.

Sem contar as frases que Jesus disse. “Ó pai, perdoai-lhes pois não sabem o que fazem” e etc. O cristianismo só é possível por conta dessas frases.

Pois bem, há duas coisas a se considerar sobre isso.

Veracidade: Quem garante que essas frases foram ditas? E se foram ditas exatamente assim? Dada a distância das coisas na época, é possível imaginar até um processo de telefone sem fio. Digamos que Dom Pedro disse “Libera ou a gente bota pra fudê!”. E logo virou “Liberdade ou guerra!”. E num momento um louquinho de bairro (nota: de você não conhece os louquinhos de bairro, quem sabe em breve eles não serão um tema de post do CH3), que disse a frase como ela ficou conhecida. E daí ela ganhou popularidade.

Importância: Todo mundo em uma visão cartesiana gosta de lembrar-se de marcos específicos. As frases ditas acima, a queda do muro de Berlim, a bomba de Hiroshima, o goleiro do Palmeiras. Todos se esquecem que eles são apenas uma parte do contexto, e a frase não foi um estalo que fez mágica na calmaria.

Não é que Dom Pedro tava lá tranquilão na dele curtindo um sol de bermuda na praia tomando uma cerveja, levantou-se e disse “se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que fico”. Ou então que ele tava passeando de cavalo com os amigos, voltando de um piquenique cheio de substâncias lisérgicas, parou o cavalo e disse “Independência ou morte! Porra!”. Ou que os alemães estavam lá andando tranqüilos, e de repente um deles gritou “vamo derruba essa merda!”. E não é só colocar o Marcos no gol que o Palmeiras ganha alguma coisa.

Houve muito sangue, suor e lágrimas na história toda. O clima já estava tenso, idéias foram arquitetadas, pessoas trabalharam até chegar ao momento máximo em que a coisa toda acontece. Mas não, parece que é só falar uma frase marcante que a revolução começa.

Tente ir você até a praça para dizer algo como “Se foi dado ao homem o direito de sonhar, sonhar-ei com um mundo mais justo!” ou simples “Olha o rapa moçada!”. Você só provocará um tumulto, ou ganhará umas moedas ou hematomas. E frases históricas não são ditas em entrevistas coletivas.

Mas mesmo assim, se você quiser tentar começar a revolução da sua cama (afinal, revoluções tem que começar em algum lugar) o CH3 já lançou há muito tempo o seu essencial “Livro das frases certas para os momentos decisivos”. Compre.

Comentários

Mariana disse…
as frases são os estopins.

As coisas que aconteceram antes foram muito mais importantes, muito mais relevantes, mas a humanidade gosta de um herói, de frases feitas e de marcos históricos.

As coisas que estavam pra acontecer há meses se desenlaçam num só dia, numa só frase.

E ainda bem, porque, se assim não fosse, hoje não seria feriado.
Os loucos do bairro. Sim Guilherme, faça o post. Hahahahaha!
No meu bairro e nos bairros de meus amigos tinham vários. O louco que puxava um caminhão de brinqueda pela cordinha; o que andava por aí com um radinho de pilha colado no ouvido e cantando horrivelmente; uma velhinha que ficava no portão falando "vem brincar mais eu, vem"; um que era simplesmente o Pedro Babão; um que andava pelo centro da cidade cantando o dia todo e só tomava coca-cola ou água parada em meio fio; entre tantos outros seres estranhos de Barra do Garças. Acho que deve ser a água de lá... Ou talvez eles tenham chegado a cidade pelo Discoporto...