Espero-te na fila

Pesquisas apontam que se você viver 80 anos terá passado cerca de oito anos, três meses, quatorze dias, dezessete horas e vinte e um minutos, parado em filas. A fila está inserida na sua vida. Em qualquer lugar da sua vida, de tal forma que você às vezes até esquece, ou não percebe que está no meio de uma. Existem até pessoas que tem mania de fila. Se olharem uma fila, já chegam atrás, porque pensam “bem, se há fila, deve ser para algo bom”.

Existe até o caso do cara que parou na porta de uma loja pra descansar um pouco. De repente alguém o cutucou perguntando para que era essa fila. Ele disse “que fila” e olhou para trás vendo uma fila que contornava o quarteirão.

Não há certeza se existe um fetiche por fila. Mas se existir, imagino que seria algo parecido com o fetiche por encoxadas.

Fila de Hospital: Não é bem uma fila, já que as pessoas estão sentadas. Mas não deixa de ser uma longa espera, em que pessoas estão na sua frente, portanto, filosoficamente pode ser uma fila. Envolve pessoas quase morrendo e outras que estão gripadas. As conversas são sobre as doenças. Qual foi a fratura? Como ela ocorreu? E esse médico que é muito bom. Mas o médico demora pra atender. No meio da história sempre tem o Luizinho, cuja cara não nega, ela já enfartou. E sempre lembra aos amigos esse fato para recusar a sétima rodada de chope com lingüiça e ir embora sem pagar a conta. E no meio dessa história, fora as revistas Caras, sempre tem alguém que acha que é o único que precisa ser atendido ali.

Fila de banco: Não há duvida. As soluções para os problemas do Brasil, quiçá do mundo, são resolvidas em filas de banco. Pessoas protestam contra a demora. Alguém sempre se lembra que brasileiro é assim mesmo, deixa tudo pra última hora. Sempre dois uniformizados conversam como se fossem amigos de infância. Falam das bundas que passam e fazem piada com tudo. E o pior, falam alto, como se achassem que todo mundo ali está interessado em ouvir a brilhante conversa. E pior ainda, eles não se conhecem, pelo menos não nessa vida. E sempre têm aqueles que gritam “Essa fila não anda”, “vai logo menina!”. Achando, provavelmente, que são as únicas pessoas com pressa ali. Todos os outros provavelmente estão na fila por hobbie.

Fila de boate: Dizem que a fila da boate é mais legal do que a boate em si. Pessoas bem vestidas ficam paradas na frente da boate no clima de azaração, enquanto uma galera bonita passa com seus carros mirando quem está na calçada. Em processo de caça. Sei de pessoas que se reúnem nos fins de semana para ir às filas. “Vamos embora, essa fila não ta legal”.

Fila de colégio: Organizem-na por ordem de tamanho. O Dudu nunca quer reconhecer que é o mais baixo e fica tentando arrumar a postura para ficar mais alto que o Jorginho e não ter a humilhação de ficar na frente. A turma que não se comportar direito fica por mais tempo em pé, de castigo.

Fila de restaurante: Uma fila profissional. Ninguém vai ao VerdeVale fazer piadinhas “essa maionese heim! Comia ela todinha!”. Ninguém protesta achando que é o único que está com fome ali. E ninguém comenta com ninguém se o homem da balança faz um bom serviço.

Fila de supermercado: Não importa. A bobina da máquina será trocada na sua vez. E a pessoa da sua frente vai resolver pagar em cheque preenchido pela máquina. Só que o cheque só pode ser aceito mediante cadastro. E ela não tem cadastro. Mas é um processo rápido, dez minutinhos e pronto. E enquanto o tempo passa, você vai comprando todas as balinhas que estão na sua frente.

Fila de banheiro: Abre! Abre! Abre! Ahhhhhhhhh. Tarde demais.

Fila no Orkut: Só aparece em profiles de meninas inseguras e sem personalidade, que acham que são o último gole da coca-cola. Nesse caso, a fila anda.


Fila Brasileiro: Um cachorro. Apenas isso.

Comentários

Hahaahahah!
As duas últimas filas foram as melhores.