Os palavrões

Quando somos pequenos, os palavrões são uma imoralidade. Você fica constrangido quando alguém mais velho fala um “toma no cu”, ou algo parecido. Mas, de tanto que eles falam você até aprende algumas coisas. Você pode dizer um “puta que pariu” quando cai da sua motoca, ou algo parecido. Mas você não tem a menor idéia do que isso significa.

Aliás, você vai passar sua vida inteira falando palavrões sem saber o sentido deles. Tanto que o “vai pra puta que o pariu” vira um “taquiopariu”. Por isso é revoltante quando você fala para alguém “seu filho da puta” e o cara responde “não põe a mãe no meio”. Oras, é claro que quando você fala que alguém é um filho da puta você não está nem aí para a condição da mãe do cara. Você está xingando ele oras, sem pensar na semântica do xingamento. Os palavrões transcendem o seu significado.

Mas enfim, não é sobre isso que vamos falar no texto. O fato é que nós aprendemos a falar os palavrões, num efeito papagaio. O seu pai vive falando, então você fala, porque deve ser importante. Vai chegar o dia em que você vai perguntar pra sua mãe, ou pro seu pai “o que é caralho?”. Seu pai pode até te explicar numa boa, mas o mais provável é que ele te de um esporro, ou que fique constrangido, e conte uma historinha boba, uma mentira do tipo “caralho é um passarinho”.

O fato é que chega a época em que você aprende um grande leque de palavrões. E que você comece a usá-los impunemente. Claro, que só escondido dos pais. Na época da terceira, quarta série. O cara esbarra em você e você já manda tomar no cu. Chama de filho da puta, e o clássico “vai se foder”. Nessa época o uso indiscriminado de palavrões gera muitas brigas, com empurrões, alguns chutes, e as crianças sendo separadas quase chorando e ainda xingando umas as outras. É o fim das bobas ofensas infantis.

Essa fase dos palavrões logo passa. Porque de alguma forma alguém mais velho vai saber que você fala palavrão, e você se sentirá constrangido com isso. Logo eles virarão algo normal, como, você pode até falar ou não, mas isso não tem muita importância.

Só que aí vem a época da oitava série, ou do primeiro ano (agora tem nona série já). Nessa época, qualquer coisa (para algumas pessoas) é motivo de revolta. O casal louco lá de Santo André, Isabellinha, Caso Pedrinho, ou coisas assim, já viram temas de redação. Juntando-se a revolta com o governo, pobreza, Estados Unidos, ou qualquer coisa que pode estar te incomodando.

É a época do foda-se. Foda-se o mundo, o governo, os americanos, os professores, os corintianos. Ainda mais nessa época dos blogs, tem muita gente que ainda cria um blog só para fazer textos cheios de palavrões. O motivo básico disso é que você ainda acha que falando palavrões está quebrando paradigmas e chocando a sociedade mesquinha. As donas de casa, as velhinhas católicas, ou as patricinhas que vão ao shopping, vão entrar no seu blog e vão ficar chocadas com o seu linguajar. “Ele é mal” todos pensarão. Então, o foda-se vira uma maneira de mostrar que você tem opinião, personalidade e é crítico. No futuro o dono do blog pode até virar um rapper.

Mas nessa época você começa a freqüentar outros lugares, pode sair de casa sozinho, e começa a perceber que os palavrões são bem comuns, e que tirando as velhinhas católicas, ninguém se choca com os palavrões. E o que é pior, elas não entram no seu blog. Você sentirá então um constrangimento profundo, e se sentira um idiota. Provavelmente vai até excluir o seu blog, e negar a existência dele.

Depois disso os palavrões deixarão de ser um tabu. Você pode até falar um na frente dos seus pais (desde, é claro, que eles não sejam velhinhos católicos). E existem algumas possibilidades.

Se você virar membro do movimento estudantil, você irá excluir qualquer xingamento do seu vocabulário. Irá preferir falar em “falácias”, “desmobilização”, e quando for ofender alguém vai chamar a pessoa de “stalinista”, “alienado”, “governista golpista”.

Você também pode virar uma daquelas pessoas que falem palavrão pra caralho. Que colocam uma porra de uma buceta no meio de qualquer frase fudida.

Ou você também pode ser uma daquelas pessoas que usam o palavrão apenas a nível de descontração. Coloca um “porra” ali no fim da frase, apenas para dar um ar de informalidade ao que você está falando. Esse artifício é muito bem usado por Wanderley Luxemburgo.

Há também os raros casos de quem nunca fala palavrão em situação nenhuma. Mas, são tão raros, que algumas pessoas acham que é lenda.

Comentários

Thiago Borges disse…
Porra, eu nunca falo palavrão cara, me incomodam esses filhos da puta q vivem falando.
Gressana disse…
Eu fico muito constrangido de falar palavrão na frente da Laís, principalmente.
Dentro de casa, ainda é um certo tabu, meu pai fala bastante, mas eu evito em ambiente familiar.
E, machista ou não, todo homem acha feio mulher que fala palavrão.
Gressana disse…
O Gil do cruzeiro também gosta de falar palavrões, ainda mais em rádios católicas.
Anônimo disse…
a do gil foi a pior.

Eu, particularmente, não falo (muitos) palavroes. Uso mais o "cabeça de pudim" e suas variações. Eu sou menina e, por incrivel q pareça, nós tbm somos machistas e tbm achamos feio munher falando palavrao.