As horas de cultura

Cultura é um negócio bizarro. O que é cultura? O que faz alguma de alguma coisa “cultura”? Então, leiam livros para saber isso, e é bem provável que vocês não cheguem a nenhuma conclusão óbvia.

Enfim, qualquer merda pode ser cultura, como também pode não ser cultura. Podem falar que a coprofagia é um traço cultural de uma sociedade. Assim como podem considerar que Chitãozinho & Xororó não seja cultura, porque é uma coisa alienante. Daí vamos para as subdivisões da Cultura. Cultura de massa, cultura popular, cultura erudita e sei lá mais quantas culturas.

A visão que as pessoas têm de cultura normalmente, é algo ligado a livros, cinema e música. Só que não qualquer um. Música é a música erudita (ou seja, qualquer coisa que toque na rádio não é cultura). A Literatura é a clássica (nada de Paulo Coelho, ou romances de banca de jornal). E filmes são aqueles de conteúdo (nada de Titanic, ou filme da Xuxa).

Também se admira muito as outras culturas. Aquelas exóticas, que nós queremos que fiquem eternamente naquele estado, para que possamos a apreciar como se fosse um espetáculo circense, e também as chamadas culturas superiores. Também gostamos de menosprezar as “culturas inferiores”.

Vez por outras os grupos ligados a “cultura” chegam à conclusão de que precisam organizar alguma coisa para movimentar a cultura local. Esse pessoal ligado a “cultura” costumam a ser um povo meio bicho grilo. Hippies, Indies, Alternativos e também intelectuais doidões.

Umas das coisas que ficaram populares nos últimos anos são as 24 horas de cultura, ou viradas culturais, jornadas culturais, ou qualquer nome parecido. É um evento no qual as pessoas resolvem recuperar todo um ano sem cultura, ou sem movimentação cultural, em apenas um dia. Aposto que no final, os organizadores dizem que os objetivos foram cumpridos, que eles conseguiram movimentar a cultura local, e mostrar o valor da cultura local, e que ano que vem eles estão aí de novo. Nos 364 dias seguintes a cultura permanecerá lá, esquecida. E isso nem é uma critica ao evento em si. Normalmente quando falamos algo do evento, podemos sofrer represálias de pessoas falando “nós fizemos nossa parte, mas você é livre para fazer algo melhor”.

Mas, a pergunta que eu faço é apenas se... As pessoas realmente ligam para cultura? As pessoas realmente sentem falta da cultura? Se elas vão nesses eventos para prestigiar a cultura, ou apenas porque vão ver um artista legal tocando, ou porque vão beber cerveja, sair com os amigos.

Falo do 24 horas de cultura no qual estive presente na tarde de sexta-feira. Ao chegar à UFMT escutei uma baita movimentação, som alto tocando sertanejo. Pensei que fosse algo ligado ao evento, mas não. Era em relação ao Intermed. As pessoas todas estavam indo na piscina, ouvir funk, beber cerveja e participar da putaria.

Vi varias meninas com trajes de banho, e, entre outras coisas, um cara com uma bóia no formato de pênis. De uns 40cm, mais ou menos. Lá nas barracas do evento cultural, tínhamos os organizadores das barracas. A barraca mais movimentada era a do bar. No palco, alguém promovia uma gincana cultural, na qual as equipes, entre outras coisas, deviam achar uma pessoa com o calçado “mais vermelho” (pense como se descobre que um calçado é mais vermelho do que o outro).

Enfim, pode ser realmente que a noite o movimento tenha sido outro. Que tenhamos tidos várias pessoas a fim de viver uma experiência cultural. Mas, não sei. Cultura é um negócio bizarro.

Comentários

Gressana disse…
Bom, eu ao menos gostaria de ter ido no evento só pra ver as gostosas de biquini na piscina...
Mas é, seriam 24 horas de cultura alcoólica?
Enfim... a tal ópera do Mallandro deve ter sido uma experiência chocante.
Thiago Borges disse…
Até agora eu não me conformo em ter perdido as gostosas de biquini.