O tráfico de corais

Nos últimos dias nossa brilhante mídia denunciou o tráfico de corais. Caso você não tenha prestado atenção em outra coisa que não seja o Big Brother Isabella, explicamos o que é: Barcos atracam em cima dos corais – aquelas formações rochosas, espécie de casa de cupim submersa – os serram e os enviam de maneira ilegal para a Europa. Você pode se perguntar “O que alguém faz com um coral?”. Eu também não sei.

Pois bem, eis que esses dias me encontrei com Alfredo Chagas na fila do supermercado. O que não me deixou feliz. Alfredo já não é uma pessoa agradável para se conviver profissionalmente, imaginem então pessoalmente. Torcendo para que as compras passassem logo, ele disse que eu deveria fazer uma matéria sobre o tráfico. Perguntei lhe qual seria a importância disso. Ele me disse que não sabia. Eu falei que não faria porra nenhuma. Ele argumentou dizendo que se eu não fizesse, ele não mais escreveria as colunas para o CH3 News. Falei que pouco importava, uma vez que essa é a seção menos lida do jornal. Mas então ele usou um argumento fatal.

“Se não fizer, não mais financiarei o CH3”. Essas palavras foram de um grande incentivo jornalístico. Falei então que faria, mas ainda na esperança de que a atarefada rotina de Alfredo o fizesse esquecer. Ele me disse para conversar com Pai Jorginho de Ogum. Voltando para casa me lembrei que Chagas nunca deu um único tostão para o CH3 e resolvi esquecer a matéria.

Tudo mudou quando o telefone tocou. Não era nada demais, era o Bruno perguntando se eu tinha uma gravata prata. Achei tudo isso muito esquisito, mas enfim. Ele é músico e recifense. Lembrei-me dos corais. Liguei então para Jorginho de Ogum e fui me encontrar com ele em um Bingo beneficente.

O lugar estava lotado, mas, existia um clarão em volta de Jorginho e de Marcão, que estava ao seu lado. Quando cheguei perto dos dois entendi o porquê. Muito provavelmente Marcão está sem água em casa e não toma banho há alguns dias.

Disse para Jorginho sobre o encontro com Alfredo, e perguntei-lhe o que ele sabia sobre o tráfico de corais. Ele disse: “Bingo!”. Ganhou uma leitoa. Feliz me ofereceu sua filha, e pela enésima vez em minha vida tive que recusar, pois a mesma é muito feia. Eis então que ele me explicou o tráfico de corais.

Sim, é isso que você está pensando. A máfia bielorrussa está levando os corais brasileiros para a Europa de maneira ilegal. Ontem mesmo, de acordo com Jorginho, os meninos cantores de Indaiatuba foram embarcados para Minsk (a capital da Bielorússia caso você não saiba). Tantos outros corais são levados diariamente. No velho continente eles são colocados para cantar em festas, em Igrejas e gravam CDs com músicas natalinas.

Pai Jorginho disse que descobriu o caso por acaso. Recentemente ele fundou o Grupo Musical Toba de Gato. O objetivo principal do grupo é lavagem de dinheiro. O dinheiro que Jorginho de Ogum ganha com a prostituição e a venda ilegal de Caninha 21 ele diz que ganhou com o Toba de Gato. Para isso ele contratou trinta garotos do bairro que mora e montou o Coral dos Mudinhos do Jardim Leblon. Agentes ucranianos abordaram os meninos prometendo um Nintendo 64 para cada um e eles foram levados.

O pai-de-santo está revoltado, porque não pode chamar a polícia. Afinal, como é que ele vai poder reclamar com a polícia que não pode mais lavar dinheiro. Neste momento Marcão interrompeu e disse que tinha uma máquina de lavar antiga em casa, que ele não usava, porque não tinha água.

Tinha que sair do lugar então. Não porque, enfim, tivesse algo melhor para fazer. Mas a nossa conversa estava irritando as velhinhas que estavam concentradas nos números. Senti por um momento que poderia ser linchado a golpes de bengala e essa denúncia não chegaria até todos.

Comentários

Gressana disse…
É, rapaz, eu acho que quem mais sofre com esse tráfico são as igrejas protestantes negras nos EUA. Lá eles sempre têm aqueles corais que cantam soul e "oh happy day".
Mas aí, que maneira de passar um feriado hein.