Memórias da Doutrinação


Eu era muito jovem e provavelmente não entendia nada do que acontecia. Só agora, anos depois, olhando os fatos em perspectiva é que eu consigo entender toda a doutrinação marxista a qual eu e meus colegas éramos submetidos em sala de aula. O colégio que frequentei muito provavelmente era uma célula terrorista do Partido Comunista.

Eu devia ter sido menos inocente e perceber que havia algo de errado quando os professores chamavam a sala de aula de aparelho. Também devia ter entendido o que havia por trás da mania que os professores tinham de colocar pseudônimos em todos os alunos e chama-los de camaradas.

O dia começava com as aulas de português. A professora sempre chamava os estudantes para conjugar os verbos: invadir, resistir e ocupar.  Eu resisto, tu resiste, eles resistem, nós resistimos, vós... Quem utiliza vós? Só os esquerdopatas para ainda insistir nesse português arcaico. As redações, invariavelmente, tinham temas como “mais valia”, “revolução do proletariado”, “burguesia opressora” e “incesto”. E porque quase sempre nos exemplos do professor o sujeito era oculto ou indefinido? Alguma coisa de errado esse sujeito fez.

Lembro das aulas de história, quando a professora chegava para a turma e dizia: “hoje nós vamos invadir uma propriedade rural”. Colocávamos todos os nossos bonés e camisetas vermelhas e partíamos nas caçambas de velhas caminhonetes F-4000 em direção a alguma terra improdutiva. Eu ficava muito charmoso com o boné do MST, pena que não havia Instagram na época. Ou sorte. Lembro do dia em que o camarada Nélson apareceu com uma foice e todos nós fomos ao delírio. Mas o dia inesquecível foi quando a professora falou que iríamos ocupar um imóvel no centro da cidade. Infelizmente choveu muito e a aula de campo acabou cancelada. Outro grande dia foi quando a Polícia chegou durante uma invasão de fazenda e entramos em um conflito armado, que vencemos facilmente. Era sempre triste quando o sino tocava e tínhamos que largar as armas e voltar para a sala de aula.

Nas aulas de geografia o professor sempre insistia em fazer com que decorássemos os países da União Soviética e suas capitais. E porque aquela insistência em nos fazer saber que a Tundra é uma vegetação típica da Rússia? Porque essa fixação com esses comunistas? E os livros que apontavam a América Latina como se fosse um só país com interesses comuns? Ninguém nunca nos ensinou a geopolítica de Miami, Abu Dhabi ou algum outro lugar civilizado.

As aulas de sociologia e filosofia eu nem preciso comentar. Por alguma razão os professores queriam que aprendêssemos a pensar. O que poder ser mais perigoso do que um bando de adolescentes pensando juntos? Um convite para a subversão. Sem contar as aulas de Arte. Qual o objetivo de fazer com que fossemos expostos aquele material cheio de pênis flácidos e extrema sensibilidade? Um estímulo à homossexualidade lasciva.

Pensando bem, acho que até as aulas de inglês faziam parte de uma estratégia para pintar o mundo de vermelho. Para fazer com que nós tivéssemos a possibilidade de ler o New York Times, Guardian, Economist e outros bastiões da imprensa esquerdalóide mundial. Já ia me esquecendo das aulas de literatura. Qual o sentido de colocar livros na mão de adolescentes que não tem capacidade nem de dirigir um carro? Se esse país fosse sério, a leitura só seria liberada a partir dos 45 anos, ou mais.

Nem mesmo as ciências exatas escapavam dessa doutrinação. Lembro de um problema apresentado pelo professor de matemática: Se um apartamento tem uma sala de 6 metros de comprimento por 8 metros de largura, quatro quartos, cada um com três metros de comprimento e 3,5 m de largura, dois banheiros de 2 metros por 0,9 cm, e, enfim, uma série de cômodos aos quais nós devíamos medir para definir a metragem total do imóvel. No final ele perguntava quantas pessoas cabem nesse imóvel. Uma tentativa de normalizar em nossas cabeças o objetivo do governo do PT que era o de colocar pessoas estranhas para morar em nossas casas compradas com o suor do nosso dinheiro.

Não era diferente com o professor de física que propôs um exercício para que calculássemos a quantidade de burgueses que precisariam ser queimados para acender uma lâmpada. Ou na química, que certamente o professor estava tentando nos ensinar a fazer coquetel molotov. Ou as aulas de biologia, e agora fico chocado com isso, que tinham capítulos e mais capítulos dedicados à reprodução, ou seja: ao SEXO. Estávamos ali expostos a genitálias sem nenhum pudor.

Por fim, havia as aulas de Educação Física que nada mais eram do que uma preparação para as sessões de tortura as quais nós seríamos invariavelmente submetidos. Só isso explica o professor nos colocando para correr circuitos ou então, praticando esportes em GRUPO, o que reforça a ideologia comunista de compartilhamento dos meios em comum. Fora isso, era um tanto quanto estranho quando o professor amarrava um aluno na trave do gol e começava a aplicar choques nele.

Enfim, creio que eu e todos os meus colegas somos sobreviventes.

Comentários