Os melhores sambas-enredo de 2018

Já está virando uma pequena tradição: pelo terceiro ano seguido o CH3 traz para você uma lista com os 5 melhores sambas-enredos do carnaval carioca. Um passei na fábula dos bambas imortais e das caravelas ancestrais que giram na renda baiana ioiô, emoldura a passarela, iaiá.

O resultado desse ano, no entanto, é pífio. Ao contrário dos anos anteriores que nos presentearam com rimas clichês e associações aleatórias sobre diferentes culturas, as letras desse ano estão mais lógicas. Descobri pelo menos três que chegam até a serem bonitas. Mesmo assim, após um árduo trabalho, conseguimos chegar ao mágico número de 5: cinco bombas, não literais, que vão explodir na Sapucaí no próximo fim de semana.

Unidos da Tijuca
Afastada da era dos carnavais tecnológicos, a Unidos da Tijuca se volta para um tema insólito: Miguel Falabella. Eu acharia extremamente difícil fazer um filme sobre o artista carioca, o que me dirá um desfile de escola de samba que conta com sete carros alegóricos, uma caralhada de alas. Sério, estou curioso para ver o que é que eles vão inventar para preencher os quase 80 minutos de desfile.
Rei Miguel conquista o mundo

Mas, se eu puder te dar um conselho, esses conselho seria: ame alguém que te ama como o compositor desse samba ama o Miguel Falabella. “Um príncipe, um sonhador”, “Gênio das artes”, “arcanjo do riso”, “poeta do humor”, “mestre da arte de contracenar” e outras antonomásias. Há ainda uma série de referências a obra televisava do autor, das quais, confesso, senti falta das Noivas de Copacabana e do Vídeo Show.

União da Ilha
Depois da inigualável poesia do ano passado (Nzara Ndembu - glória ao senhor do tempo, provavelmente o samba mais nonsense da história) e expectativa era grande sobre a escola da Ilha do Governador. E eles vieram fortes ao falar sobre a culinária. “Caravelas a bailar no mar” é um verso retumbante.
O cozinheiro imortal acende o fogo no terreiro de Yabá

O refrão explode em um “Fogo acesso no terreiro dos Yabás ô-ôô”, que utiliza o recurso da onomatopeia para pode rimar com um verbo qualquer - no caso esquentou. A segunda parte do samba é uma verdadeira ode parnasiana as vós quituteiras e aquele clima nostálgico de algo que jamais experimentamos. No desfecho, o glorioso verso que poderia ser cantado pelo Wando: “Vou deixar água na boca, provocar uma vontade louca”. Sim, acaba assim. Acaba na vontade louca.

Portela
Campeã do ano passado rompendo um jejum glacial, a Portela desfila o enredo mais nonsense de 2018: “De repente de lá pra cá e dirrepente de cá pra lá”. A história de um grupo de judeus que fugiram de Portugal em um pogrom qualquer e foram parar na Pernambuco holandesa. Depois os portugueses os expulsaram de lá e eles foram para em Nova Iorque, mas no meio do caminho foram atacados por piratas, mas enfim, sobreviveram até o dia em que morreram. Parece aquela história louca que tio conta, mas é um samba-enredo.
A Águia da Portela observa, sem reação, essa zueira toda sem entender porra nenhuma

Ok, daria um ótimo filme de Scorsese, mas a letra parece ser aquela velha ladainha sobre o homem no campo, trabalhando a terra. Uma bela alegoria de difícil interpretação.

Mocidade Independente de Padre Miguel
Também campeã do ano passado a Mocidade tenta seguir a tradição (nos últimos dois anos a escola campeã foi devidamente citada nesse post do CH3) com um enredo sobre a Índia. Se no passado eles colocaram um agogô na mão de Alladin, nesse ano eles falam em desembocar o Rio Gandes no Rio de Janeiro, o que seria uma merda danada porque já tem poluição suficiente no RJ.
Cheio de plumas, Gandhi chega para animar a festa

Brahma, uma história de glória, Shiva no carnaval, Madre Tereza de Calcutá e uma estranha reverência à tolerância nesse país dividido em castas. Mas, nada disso se compara ao glorioso momento quase no fim do samba: “Nehru, Dom Helder, Chico Xavier rezem pra Índia e pro Brasil, bendita seja a santíssima trindade em Nova Déli ou no céu Tupiniquim”. Meu pau de asa.

Imperatriz Leopoldinense
Para homenagear o Museu Nacional eles rimam beleza com realeza e fazem o melhor verso da poesia nacional nos últimos anos: “Bailam meteoros e planetas, dinossauros, borboletas, brilham os cristais. O canto da cigarra em Sinfonia relembrou aqueles dias que não voltarão jamais”. Meteoros bailando? Planetas? Qual é a ligação entre a porra de um dinossauro com uma borboleta? Que cristais são esses? Onde entra a cigarra? É claro que esses dias não voltarão jamais, porque os dinossauros foram extintos, cacetes.
Uma noite no museu

O samba ainda segue com tucanos (campanha extemporânea?), araras, onças-pintadas e rituais de fé para o rei Daomé. Há uma devida citação ao Egito, seguida por referências aos índios Marajó, Carajá e Bororó, entram os Incas no meio da história e repentinamente o samba se volta para a família real. Uma loucura só. Parece que o sambista tomou ácido, visitou o museu e voltou de lá com essa letra.

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