Os 30 anos do mito Jordy

O ano era 1992 e o impacto provocado por Macaulay Culkin na sociedade gerou uma busca desenfreada por versões regionais de crianças loirinhas e bonitinhas. Entre tantas essas crianças, uma das que mais fez sucesso foi o francês Jordy Claude Daniel Lemoine. Nascido em um subúrbio parisiense no dia 14 de janeiro de 1988 este pequeno fenômeno das massas completou 30 anos e hoje vive completamente desconhecido em sua terra natal.

Em seus tempos de glória ele foi o mais jovem artista da história a ter um single como número 1 nas paradas musicais. A façanha foi conquistada quando o jovem Jordy tinha 4 anos de idade e a canção era a clássica “Dur Dur D’être bébé!”. O single continha quatro versões da canção em diferentes mixagens eletrônicas e deus sabe o motivo pela qual ela fez sucesso. A letra era um apanhado desconexo de questionamentos infantis sobre as ordens maternas (porque isso, porque aquilo, repetia o jovem revoltado), o que faz com que Jordy seja provavelmente o mais jovem punk de todos os tempos.


Mostrando que não era um One Hit Wonder qualquer, Jordy voltou a atingir o topo das paradas com “Alison”, canção sobre um amor no Maternal que honra o adjetivo constrangedor. Seu primeiro disco, Pochette Surprise vendeu de maneira incrível e seu segundo disco “Potion Magique” obteve alguma repercussão quando lançado em 1993. Depois disso, a criança sumiu completamente.

O caso de Jordy não é único, a história é cheia de talentos precoces que sucumbiram a superexposição midiática precoce. Ou de crianças que eram talentosas quando comparadas as suas contemporâneas, mas que quando cresceram se transformam em adultos medíocres. Em todo caso, vamos analisar detalhadamente a história de Jordy.

Analisando detalhadamente a história de Jordy

Esta é a foto mais famosa de Jordy adulto. Seu olhar perdido,
enquanto escuta o novo sucesso de MC Bin Laden e sente
todo o vazio emocional da existência
Quase todas as pessoas indefesas que fazem sucesso por motivos inexplicáveis são dominados por uma personalidade oculta, seja ela satanás, um empresário, ou no caso de Jordy, os pais dele: Claude Lemoine – que era produtor musical – e Patricia Clerget – compositora. Diz a lenda que a música foi escrita depois que os pais levaram o primogênito para fazer um teste para um comercial de fraldas em que a criança deveria dizer uma frase sobre as dificuldades de estar cagado. Os pais viram então a oportunidade de fazer uma canção sobre as dificuldades da infância e a colocaram sobre uma base eletrônica qualquer e o resto é história.

Quase todo mundo que faz sucesso de maneira inexplicável acaba ficando deslumbrado diante da fortuna jamais imaginada e passa a torrar o dinheiro aleatoriamente. Não seria diferente com Jordy, que se pudesse torraria seus milhões em bala 7 belo, pirulitos e Coca-Cola. No entanto, como ele era uma criança de quatro anos sem capacidade de responder diante das autoridades fiscais e financeiras, a fortuna foi administrada por seus pais que, é claro, gastaram todo o dinheiro em besteiras e montaram uma fazenda cenográfica explorando a imagem do filho, projeto fracassado que acabou com todo o recurso adquirido pela criança.

Ao se tornar uma criança falida de 7 anos de idade, o caso Jordy chegou aos tribunais e a Justiça francesa baniu Jordy das rádios, para preservar sua imagem e impedir que ele se transformasse em um adolescente alcóolatra, maconheiro, com baixa-estima e tendências suicidas. Esse banimento ajuda a explicar um pouco o porque pouco se ouviu falar sobre Jordy depois se seu sucesso efêmero.

Jordy pós-banimento

Quase nada se sabe sobre sua vida desde então. Seus pais se separaram, Jordy voltou para a escola, chegou a lançar uma música em uma banda de pop-rock, participou de um reality de subcelebridades francesas fracassadas e vive sendo personagens de sites de notícias falsas. Praticamente todos os textos sobre sua vida repetem as informações aqui citadas: fama, fracasso, aparições pós-sucesso e aparentemente ninguém se interessou em pesquisar o que o garoto fez nos últimos 10 anos, porque ele deve ser absolutamente desinteressante.

Pequeno diferencial

Para que esse texto tenha um pequeno diferencial em relação a todas as memórias laudatórias de Jordy, destacamos aqui o papel de seus pais. Perfeitos canalhas oportunistas que aproveitaram o carisma inexplicável se seu filho e um surto de histeria coletiva mundial para ganhar um porrilhão de dinheiro, viver loucamente por dois anos, gastar toda a fortuna em um projeto megalomaníaco e não deixar um centavo para a pobre criança que perdeu sua primeira infância participando de diversos programas do Gugu ao redor do mundo.
Na verdade, essa criança nem é o Jordy. Trata-se de Dany Boy, assistente de Gugu Liberato, mais uma que foi fruto desta busca incessante por loirinhos simpáticos. No entanto, Jordy chegou a participar do Bom Dia e Cia, também no SBT.
De qualquer forma, vale um parabéns para o Jordy, que ao que tudo indica completou 30 anos antes de ontem, já que é capaz que ninguém tenha parado para verificar se ele ainda está realmente vivo.

Comentários

ACelso disse…
Fera, seu texto até que é legalzinho. Eu lembrei dessa figurinha Jordy porque eu tô na França a passeio e comentei com a minha esposa: “lembra daquele pirralho francês que cantava aquela musiquinha?
Mas, bicho, o fato do moleque não ser mais famoso depois de adulto não faz dele um medíocre automaticamente.
Se seguirmos seu raciocínio, o mundo é medíocre, porque a absoluta maioria das pessoas é anônima. Muita gente também tem os pais que se separam e também precisam dar o sangue pra pagar contas.
Seu texto é bacana, mas esse julgamentinho de um Guilherme que ninguém também sabe quem é, não faz a mínima diferença.
Mas, fora o julgamento barato, seu texto é legal. Obrigado pelas informações.
Guilherme disse…
Bicho, você tem toda razão. O mundo é um lugar bem medíocre. Valeu por fechar as pontas do texto com esse comentário.