Versão Brasileira

Chitãozinho e Xororó, Sandy e Júnior, Angélica, Nenhum de Nós, Capital Inicial? O que todos esses artistas têm em comum? Todos eles já lançaram versões nacionais de músicas internacionais. C&X transformaram uma música brega do Bryan Adams em algo ainda muito pior (fizeram isso com várias músicas), Nenhum de Nós adicionou um surrealismo extra para uma música de David Bowie, Angélica assassinou uma música dos Cranberries e por aí vai.

Todos essas músicas tem em comum o fato de serem deploráveis. E também de serem, na verdade, livres adaptações do inglês. As letras não tem muita relação com a original, apenas a melodia é mantida.

Pois bem, fiz essa longa introdução para chegar aonde eu finalmente queria: se muitas músicas internacionais que nós escutamos impunemente, fossem traduzidas literalmente para o português, nós sentiríamos vergonha de escutá-las. Letras cafonas, ruins, vazias, bizarras, que escutamos apenas porque não entendemos direito o seu significado.
E essa roupa, porra

Começo citando Sultans of Swing, do Dire Straits. Uma banda que podemos definir como rock de churrasco, ou rock de supermercado. Mas, como levar a sério uma música chamada “Sultões do Suingue”? A letra é sobre um cara que acorda de noite e vai até um bar onde ele descobre uma banda legal tocando. Mas, porra, sultões do suingue? Você escutaria uma música chamada Sultões do Suingue, se ela fosse em português? Não dá. Até o Jorge Aragão sentiria vergonha de cantar um negócio assim.

Para demonstrar minha isenção, vou aqui bater em Beatles, minha banda favorita. Eles também têm músicas que provocariam constrangimento se fossem cantadas em português. O maior exemplo é Good Day Sunshine. “Estou apaixonado e está um dia ensolarado. Bom dia luz do sol”. Não fode Paul. Sem contar “eu sou a morsa” e outras letras psicodélicas. (Os Beatles, aliás, foram definitivamente assassinados por Kiko Zambianchi e sua Hey Jude, e Zé Ramalho que traduziu literalmente “lá vem o sol, queridinha”).

Radiohead é uma das bandas mais aclamadas pela crítica, mas suas letras não fazem muito sentido, se formos traduzi-las. Fake Plastic Trees e suas letras sobre cidadãos de poliestirenos que faziam cirurgias plásticas nos anos 80. E o Nirvana? “Polly quer um biscoito” ou “Eu gostaria de comer o seu câncer quando você ficar preta”.  Sem contar que todas as letras do Coldplay nos fariam sentir saudades do Detonautas. “No meu lugar, haviam limites que eu não poderia mudar, estou perdido”. E a letra inteira de Fix You.

Por outro lado, algumas letras nacionais que consideramos idiotas, poderiam fazer o maior sucesso se fossem cantadas em inglês. Jota Quest e sua terrível “Dias melhores”. “We are waiting for better days, days of peace, more days, days we won’t let behind”. Uau. E a tenebrosa Papo reto do Charlie Brown? “She was all alone wanting some attention e someone to talk. You let her down, and gonna pay for that, you must know”. Um hino.

Badauí poderia ser Bob Dylan, John Lennon vira um Chorão. Traduções podem enterrar reputações.

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