Debate filosófico: o pau de selfie

Desde que o dicionário Oxford decidiu que “selfie” era a palavra do ano de 2013, a nomenclatura para tirar autorretratos se popularizou miseravelmente. O mundo vive atualmente em um estágio de selfiedependência, em que é preciso vir, ver e tirar uma foto sua no lugar. Veni, Vidi, Accipies Photus In Loco.

Essa degeneração amplamente difundida na literatura médica foi ainda mais acentuada pela utilização de um bastão, popularmente já conhecido como pau de selfie. Um pedaço de material indefinido – nunca toquei em um, não sei o que é – no qual se encaixa uma câmera fotográfica na ponta e é possível tirar fotos de si próprio. Temos um dilema aí.

A selfie, todos nós já sabemos, é uma foto que você tira de você mesmo. A utilização deste bastão ainda caracteriza uma foto de si próprio, ou é necessário que a própria pessoa tire a foto, sem o uso de nenhum objeto? Polêmico. Por isso é que nós voltamos a reunir centenas de cabeças pensantes em nosso luxuoso auditório em Cuiabá no primeiro dia do ano de 2015. Reunimos roqueiros decadentes dos anos 80, monges budistas, vereadores cassados por corrupção e debatedores compulsivos, em geral.

Pai Jorginho de Ogum, nosso tradicional Mestre de Cerimônias, fez a apresentação do tema e de suas implicações lógicas, filosóficas e filológicas. Abriu o microfone para quem quisesse falar e só pediu para que, por favor, nenhum homicídio fosse cometido dentro do auditório, já que é muito difícil retirar as manchas de sangue seco do carpete. Pediu então, que todos os indivíduos armados se desarmassem ou se retirassem do local. Percebendo o rápido esvaziamento do auditório, principalmente no setor dos monges budistas, Jorginho voltou atrás, mas clamou pela não violência.

O ex-roqueiro e celebridade do Twitter, Lobão, começou o debate dizendo que essa é mais uma armadilha do petismo para promover a cubanização do Brasil. “Começam assim, com longos bastões negros e logo trarão cubanos com paus pretos enormes para enfiar o golpe comunista ânus adentro do povo brasileiro do bem”. Seu microfone precisou ser cortado e Jorginho autorizou o uso de armas, já lamentando pelo carpete.

O debate recomeçou de maneira mais amistosa. Dalai Lama afirmou que a utilização da palavra selfie já era terrível por si só e que os seres humanos que fazem uso dessa expressão merecem ser sacrificados, porque só assim a paz mundial será alcançada. Bastante exaltado, Dalai afirmou que proibiu os selfies em todo o Tibet e propôs uma votação para saber se selfie era uma palavra escrota. Votação realizada, a escrotidão do selfie foi definida por unanimidade.
Eles foram sumariamente assassinados

Uma vez reconhecida a decadência humana provocada pela referida palavra, finalmente chegou-se ao bastão. Seu uso descaracteriza o selfie? Bill Gates acredita que não. Uma vez que o selfie é uma ação permitida pela tecnologia, qualquer tecnologia agregada não irá descaracterizar a autofoto. Steve Jobs se manifestou contrariamente. Se definindo como um tradicionalista, Jobs afirmou que selfies podem ser feitas apenas com celulares, uma vez que câmeras fotográficas existem desde antes da existência da palavra. “Apenas o iPhone é que permitiu as selfies”. Dalai Lama disse então que o responsável pela existência do selfie deveria morrer.

Didi Mocó afirmou que, se o pau de selfie descaracteriza o selfie, talvez isso seja bom, porque tudo que possa ser feito para acabar com as selfies será bom. Didi então contou uma história, de sua juventude no nordeste, quando ele viu uma criança no colo de uma mãe pobre, que não tinha dinheiro para comprar um celular. A criancinha olhou para a mãe e perguntou “mamãe, no céu tem selfie?” e morreu. Renato Aragão foi às lágrimas, mas ninguém aplaudiu.

Professor Pasquale questionou se é “a selfie” ou “o selfie”. Valesca Popozuda afirmou que, dentro de quatro paredes, vale tudo para se satisfazer com um selfie. Vinícius Gressana perguntou sobre a aplicação prática do pau de selfie nos mais variados fetiches, mas foi interrompido por Pai Jorginho de Ogum, que não queria ver a discussão se perdendo por temas coadjuvantes.

A cantora Claudia Leitte virou sua cadeira e disse que o uso do pau de selfie é brega e o travesti Vanessão perguntou quem Cláudia Leitte acha que é para dizer que qualquer coisa pode ser considerada brega. Glórinha Kalil manifestou seu apoio a Cláudinha e afirmou que realmente o pau de selfie transforma o ato de fazer uma selfie em uma coisa ainda pior. “Totalmente degradante”, afirmou. Lobão voltou a se manifestar e disse “morte ao PT” um pouco antes de um filete de sangue escorrer pela sua boca e ele cair no chão.

A discussão prosseguiu mais algum tempo com várias pessoas afirmando que o pau de selfie é uma coisa totalmente ridícula e ao final chegaram a conclusão de que é preciso acabar com esse mal que aflige a sociedade. “Vamos pegar em armas e acabar com o pau de selfie e acabar também com quem utiliza o pau de selfie”, bradou o Dalai Lama, prontamente seguido por Mahatma Gandhi. Apenas chegaram a conclusão de que não deveriam utilizar o pau de selfie para empalar os inimigos porque isso poderia ser caracterizado como utilização do pau de selfie, mesmo que não para os seus devidos fins.

E a revolução foi para as ruas, ao som da Marselhesa.

Comentários

Gressana disse…
Esses debates estão cada vez mais perigosos. Tenho medo de ir aos próximos. Só vou se estiver presende o grande Humoyhuesos.