Amigo Oculto CH3 2014

Os poucos que acompanham o CH3 sabem que todo ano nós realizamos um Amigo Oculto. Uma oportunidade para que os seus membros se encontrem para confraternizar, ficar sem assunto depois de cinco minutos e permanecer o resto da noite com ar constrangido, olhando para o teto e tomando bebidas alcoólicas de procedência duvidosa e de quebra, ganhar um presente bem vagabundo que vai ficar encostado em uma prateleira, acumulando poeira ao longo do ano.

Nossos seguidores também sabem das dificuldades que temos encontrado para organizar o encontro. Tudo começou com Alfredo Chagas tentando subverter o espetáculo, criando o famigerado Amigo Secreto Ladrão. Diz ele que essa é a melhor maneira de se conhecer o caráter de uma pessoa. "Você seria capaz de roubar um presente bom de um amigo seu, de estragar a felicidade dele em nome da sua felicidade? Heim?".

Depois, sofremos com os conflitos nas agendas de Tackleberry e Vinícius. Para piorar, Guilerme, o Original, morreu. Amigo Secreto já é um porre. Amigo secreto com poucos participantes é pior ainda. Precisávamos encontrar uma solução.

Alfredo Chagas disse que nunca mais irá participar de um Amigo Oculto na sua vida, porque ele não é um porco iconoclasta. Vinícius estava em Orlando, nos Estados Unidos, negociando a compra dos estúdios Disney. Tackleberry estava nas Bahamas, para variar, cuidando do dinheiro que ele conseguiu na campanha eleitoral deste ano. (Dizem que se você andar pelas areias da Cable Beach em Nassau, poderá ver Tackleberry andando com bolos de dinheiro amarrados em uma coleira). Então, eu joguei a toalha e disse que não iria participar de um amigo oculto com um pedreiro, um pai-de-santo, um pansexual e um cachorro sem braços.

Coube a Pai Jorginho de Ogum, sempre ele, encontra uma solução. Utilizando-se de seus poderes mediúnicos, Jorginho descobriu que Tackleberry e Vinícius estariam chegando em Cuiabá no mesmo dia e curiosamente no mesmo voo. Ele então convocou o Papai Noel que conhecemos no ano passado e elaborou um plano.

Às 17h20 do último sábado, Papai Noel chegou ao Aeroporto Internacional Marechal Rondon e se postou perto do desembarque, distribuindo sorrisos, balinhas e tirando fotos com crianças encantadas, como se aquele fosse mais um dia normal na vida de um Santa Claus. O voo que ele esperava chegou e quando Gressana pôs os pés para fora da área de desembarque, o Papai Noel gritou "barata voa gurizada" e arremessou centenas de pirulitos para o alto, provocando aquela balburdia que só acontece durante baratas voas.

Vinícius Gressana ficou perdido entre crianças que se arrastava e se debatiam no chão em busca de pirulitos, quando Tackleberry também apareceu. Em um gesto rápido, o Papai Noel enfiou cada um dentro de um saco e os arrastou até o carro que o esperava do lado de fora. Os dois foram colocados no porta malas.

É claro que eles gritaram um pouco e se debateram dentro dos enormes sacos vermelhos felpudos. Como não poderia deixar de ser, a ação chamou a atenção de algumas pessoas, mas vocês sabem como é o mundo hoje em dia. Se você presenciar um esquartejamento público, muito provavelmente resolverá não intervir na cena e agirá com naturalidade diante do ocorrido. Depois ainda vai procurar notícias no jornal sobre a carnificina e contar “nossa eu estava lá” e responder com indiferença sobre o porquê não fez nada.


O carro então rodou pelas ruas de Cuiabá durante duas horas, até chegar na Casa de Diversão Noturna Carnicentas. Papai Noel retirou os dois do saco e acertou um chute na barriga de Vinícius. Precisamos intervir. Papai Noel pediu desculpas, dizendo que das outras vezes em que ele precisou fazer um serviço assim, ele também ficou encarregado de dar uma surra nos raptados, entrou no clima e tal.

Equívocos corrigidos e devidos esclarecimentos prestados, começamos a cerimônia, novamente realizada na nefasta modalidade “Amigo Ladrão”. Os presentes foram trazidos, em sua maioria, pelo Papai Noel. Já que ele tem a manha para conseguir essas coisas. Como ele conhecia todos os presentes, não participou do sorteio, ficou responsável apenas por moderar os conflitos, prometendo dar uma gravata em quem tumultuasse o ambiente.

Pois, o Cão Leproso foi sorteado com o número 1. Ele se dirigiu até a mesa e escolheu um embrulho brilhante com fita dourada. Após uma pequena batalha, finalmente abriu o pacote e para a sua surpresa encontrou uma piroca de chocolate. Cão Leproso olhou para a jeba, olhou para as pessoas, voltou a olhar para a benga, olhou para os céus e disse “ó pai, porque me abandonaste”. Papai Noel riu. Pelo segundo ano consecutivo, o Cão Leproso ganhou uma jiromba de chocolate.

Eu fui o segundo a pegar um presente. Olhei para aquela mesa pensando que qualquer um daqueles embrulhos poderia conter minha maldição eterna. Fechei os olhos e peguei um pacote qualquer e lá dentro estava um boné Hang Lose igual a um que eu ganhei em um amigo oculto em 1998. Muito estranho. Olhei para o Papai Noel, que desviou o olhar.

O papel com o número 3 caiu na mão de Hanz o Pansexual. Ele não teve dúvidas. Roubou o pinto de chocolate do Cão Leproso e lhe entregou outro presente. Hanz já se deliciava de maneira pornográfica com o chocolate quando Cão Leproso viu que havia ganho um DVD do Foo Fighters.

A batata agora estava na mão de Vinícius Gressana. A batata e o papel de número 4. Como ele é fã e cosplay do vocalista do Foo Fighters, resolveu tomar logo o DVD que estava com o Cão Leproso e lhe entregar outro pacote. Pacote este que contava com um CD do Roberto Carlos.

Então, Pai Jorginho de Ogum foi a frente e roubou o CD do Roberto Carlos, entregando outro pacote para o Cão Leproso, que, acreditem, puta merda, continha um iPhone 6. Marcão então resolveu tomar o iPhone 6 do Cão Leproso, acreditando que ele era um descanso de copo muito bonito. Entregou um pacotinho para o cachorro e lá dentro estava a chave de um Honda Civic. E, acreditem novamente, o Honda Civic estava estacionado do lado de fora.

Restava Tackleberry, o último sorteado, o que num amigo ladrão significa ser uma espécie de Don Corleone da porra toda. Ele poderia escolher um carro, um iPhone, o que quisesse. Mas sua mente estava em dúvida. A cada pacote novo, o Cão Leproso recebia um presente melhor. Isso podia não acontecer agora, mas, e se? De qualquer forma, o carro, ou o iPhone já seriam boas garantias. Mas, todos nós conhecemos Tackle. Empresário arrojado, que gosta de correr riscos prevendo um ganho maior. Não quis saber e ficou ele com o pacote, o último pacote que estava em cima da mesa.

Que continha outra piroca de chocolate. Tackleberry apostou alto e acabou perdendo tudo. Por um segundo, a oportunidade esteve na sua mão. Poderia o Cão Leproso ter sido a vítima de uma das maiores conspirações do destino, tendo começado com uma piroca, passado por um DVD, um CD, um iPhone, um carro e terminado em outra piroca. Mas não dessa vez.

Cerimônia encerrada, os helicópteros começaram a descer no heliporto da Carnicentas e todos voltaram para suas casas, após aquele que pode ter sido o último amigo oculto da história do CH3.

Comentários

Gressana disse…
Ainda tenho contas a acertar com esse Papai Noel filho da puta.
Mas foi mais um grande dia. Felicitações ao Cão Leproso.